Memorial Vale da Saudade

Luto parental – A história de Sheila e Guilherme

Luto parental é a perda de um filho, a dor inominável que atravessa a alma e muda o cenário da vida. E quando a causa da morte é o suicídio? um tabu grande em nossa sociedade que nos impede de falar sobre quem se foi e de cuidar de quem ficou. No episódio de hoje conheça a história da Sheila, mãe, que perdeu um de seus filhos, o Guilherme, aos 17 anos de idade, por suicídio, há aproximadamente 1 ano. O Gui, como a Sheila o chama, decidiu por fim a sua dor, ele estava passando por uma Depressão; sua saúde mental estava abalada. Após a perda, Sheila vem compartilhando sua dor e a saudade do filho em seu instagram e tem buscado cotidianamente falar mais sobre esses tabus a fim de poder levar um pouco de ajuda a quem se identifica com sua história.

Aperte o play e vem acompanhar essa história.

Introdução

Perder um filho é uma das maiores dores da vida. Ela nos rouba um futuro, que há muito foi sonhado, planejado e imaginado. No episódio de hoje vamos conversar com a Sheila. Ela que tem uma história pra nos contar, sobre perda sobre amor, sobre saudade, e sobre como ela tem lidado com tudo isso.

Conversando com Sheila

Isadora – Bom dia sheila primeiramente eu quero te agrader novamente por ter aceito o nosso convite. Eu vou pedir pra você se apresentar pro pessoal que está nos ouvindo hoje.

Sheila – Olá Isdora, primeiramente muito obrigada pela oportunidade, pelo convite especial. Eu me chamo Sheila, tenho quarenta anos, sou mãe de quatro filhos, e ano passado eu sofri a maior dor da minha vida. Eu posso falar da minha vida que foi a partida do meu filho de dezessete anos, o Guilherme. Faleceu ano passado, no dia sete de maio, em decorrência de uma depressão e ele acabou com a dor que ele estava sentindo, e veio a óbito.

Isadora – Sheila minha querida, perder um filho é a maior dor realmente da vida e você está aqui nos mostrando isso. Nós conhecemos até mesmo como uma dor sem nome de tão difícil que é poder expressar essa falta. Conta um pouco pra nós como você tem lidado com essa dor, quais recursos você tem utilizado pra poder lhe trazer um acolhimento que você precisa?

Sheila – Desde a partida do Gui, eu tenho tentado dia após dia ressignificar a minha vida, tentando por pra fora todas as minhas emoções não reprimindo nada, não tentando ser forte, simplesmente sentindo essa dor e deixando ela fluir do jeito natural, que tem que ser. Eu acho que cada um sente de uma maneira, eu a primeiro momento, como foi decorrência de um suicídio, me culpei, pensei que eu poderia estar lá, que eu poderia ter evitado, mas com o passar do tempo eu vi que eu fiz tudo que eu pude, que eu amei intensamente e que a vida dele quem tinha controle era só ele, né? E é isso, eu tento me apegar às mensagens que ele me deixou, as fotos, os momentos e vou seguindo.

Isadora – E nós sabemos que o Suicídio é um assunto tão tabu na nossa sociedade, as pessoas evitam tanto falar sobre que, com certeza, ele traz um impacto também na vivência desse luto. Você sente esse impacto? Como você lida com isso?

Sheila – O tema suicídio é muito rotulado, o luto já é difícil, já é um desafio constante. E quando você tem um luto por suicídio, as pessoas meio que já te olham julgando que tipo ah ela não viu, ela podia ter feito mais, então tem esses julgamentos. Um conselho que eu dou pras mães ou pra qualquer pessoa que perdeu um ente querido por suicídio: Não se culpe. Você fez o que pôde com tudo que você tinha, e a vida do outro não está nas nossas mãos, sabe, a gente tem o poder de cuidar, de amar mas a vida de cada um, o que as pessoas fazem com a própria vida, é decorrência das suas próprias decisões. Então eu parei de me culpar porque não fui eu que tirei a vida, muito pelo contrário, eu dei a vida pro meu filho, eu dei todo o meu amor, eu dei tudo o que eu tinha, ele era o melhor de mim.

Então eu acho que o suicídio deve ser mais pautado, deve ser mais falado e as pessoas têm que perder, esse medo, essa vergonha que não é vergonha você perder um ente querido pro suicídio; e sim falar! Porque quando você fala, eu acho que você ajuda outras pessoas a estarem evitando um possível suicídio.

Eu tenho consciência de que se falam de tantas coisas, de tantas matérias, de tantos temas e o suicídio só é muito lembrado no Setembro Amarelo, e o Setembro Amarelo são todos os dias porque todos os dias morrem muitas pessoas pelo suicídio. Então deve ser mais falado e as pessoas têm que perder o medo de falar.

Isadora – E pra finalizar o nosso episódio de hoje, mais uma vez eu quero te agradecer por ter aceito tão gentilmente esse nosso convite, quero também te mandar um grande e forte abraço nesse momento que você vivencia, e pedir pra você uma mensagem. Que mensagem você tem buscado passar pras pessoas, que também lidam com luto pela perda de um filho? Eu tenho te acompanhado e tenho visto que você sempre faz vídeos falando sobre os momentos que você tem vivenciado, isso tem feito pessoas chegarem até você também. Então que mensagem você quer deixar pra essas pessoas?

Sheila – A mensagem que eu tenho tentado passar às pessoas é simplesmente isso, talvez você não queira falar “suicídio”, aí você explica o que que aconteceu ele estava com depressão. A palavra suicídio pra mim até um certo tempo foi meio pesada sabe, porque eu ficava: gente como que um ser tão maravilhoso teve a capacidade de tirar a vida? Mas aí eu comecei a entender que ele não tirou a vida dele. Eu acho que quando a pessoa comete suicídio ela quer acabar com aquilo que está machucando ela por dentro. A dor, o Gui falava que ele sentia uma dor no peito que sufocava ele, que tinha hora que ele não conseguia respirar; então eu acredito que foi isso que aconteceu ele deve ter sentindo essa dor e queria acabar com essa dor e acabando com essa dor, infelizmente ele passou pro outro lado.

Então a mensagem que eu deixo é: não se culpem pela partida do seu ente querido, tenha a certeza de que você fez tudo o que você podia, que você deu tudo o que você tinha e que a vida do outro não está nas nossas mãos. Você não tinha aquele poder de chegar cinco minutos antes. Você não tinha o poder de não deixar-lo ir pra não acontecer. Você não tinha o poder de evitar aquela briga. Tudo acontece quando tem que acontecer. Deus nos deu a vida e a gente que toma as decisões das nossas vidas. A gente erra constantemente e ele não tem o domínio sobre as nossas decisões, e assim também com os nossos entes queridos, com os nossos filhos. Eu não tinha o poder de estar vinte e quatro horas com o Guilherme ou dentro da mente dele pra evitar um um possível suicídio. E aconteceu, e hoje eu aceito e acolho essa dor, esse vazio que está dentro de mim, e eu espero que todas as mães que perderam seus filhos, que lembrem deles com amor, de cada momento, de cada segundo e levem isso pra vida eles estão vivos dentro de nós, eles só passaram por outro lado.

Quero mais uma vez agradecer pela oportunidade de falar, de me expressar. Eu me sinto muito bem quando eu falo, quando eu me expresso e quando eu consigo com uma palavra, com a mensagem talvez acalentar o coração de alguém que está enlutado. Gratidão, eu estou aqui sempre disposta a ajudar, e é isso gente muito obrigada pela oportunidade, um abraço.

Isadora – Que fique então essa nossa mensagem de hoje pra todas as pessoas que perderam seus filhos, que tem passado e vivenciado essa dor tão grande. E se você perdeu alguém pelo suicídio, saiba que o seu luto é um luto válido, o seu luto precisa sim ser reconhecido e acolhido por você e pelas pessoas ao seu redor, e poder falar, expressar essa dor, ter espaços de compartilhamento, é uma forma de nós podermos juntos, e constantemente ampliar esse cuidado e quebrar tabus. Então fica o nosso recado pra hoje um forte abraço e até o próximo sábado.

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Como ter ajuda?

Sabemos que passar pelo luto é muito desafiador, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music

Conheça o Memorial Vale da Saudade e tenha toda a tranquilidade que você precisa!

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