Memorial Vale da Saudade

Existe o Sentido da Vida?

A morte não é uma brincadeira embora muitas crianças e adolescentes brinquem com ela o tempo todo. Mas também não podemos submergir a morte num lago de seriedade e tristeza absolutas.

O maior desafio é encontrar formas de significado que possam tornar a morte aquilo que ela é de fato, um fenômeno vital da natureza que valora a vida! Durante milênios o homem cercou a morte com divindades e fábulas, mitos ancestrais que ofereciam na verdade um sentido à vida.

Hoje nos defrontamos com um paradoxo praticamente inédito. No último século o homem dobrou sua expectativa de vida. Em algumas regiões do planeta já é possível falar em médias que alcançam quase os 90 anos de idade.

A velhice no passado era um evento raro. Era comum morrer jovem ou viver no máximo até os 40 anos. Quem ultrapassasse esses limites era considerado “idoso“.

Hoje estamos sobre o altar da ciência e brincamos algumas vezes de enganar a morte. Eu mesmo estou fazendo isso agora. Tive um caso grave de diverticulite, fui operado e quase morri de uma bactéria multirresistente. Fiz quimioterapia para câncer de cólon com prognóstico bem otimista do médico.

Minha situação não é só minha. Milhões de pessoas já estariam mortas se não usassem da tecnologia e do conhecimento. Isso é simplesmente maravilhoso. Mas existe uma questão que realmente as pessoas se perguntam: “O que estamos fazendo com o tempo maior de vida conquistado pela ciência?“. E mais, se a ciência vai construindo sentidos à uma sociedade laica, como lidar com o aumento de vida e ao mesmo tempo com um certo sentido de perda de eternidade que antes era oferecida pelas perspectivas metafísicas de vida?

Aqui temos que buscar o auxílio dos antigos filósofos. Estamos sendo governados pela vida ou governando a vida? Qual o sentido que damos às escolhas e decisões que tomamos? Estamos realizando projetos de existência ou nos debruçamos na janela e ficamos indiferentes vendo o tempo e as pessoas passarem? Estamos conformados com situações castradoras da nossa liberdade ou buscamos transformar a imposição da necessidade construindo espaços de liberdade? Independente de crermos ou não em um porvir, a discussão da morte e da vida passa pela nossa liberdade em produzir sentidos para nossa existência que digam ao mundo quem somos, individual e coletivamente.

Plano funerário Memorial Vale da Saudade
Existe o Sentido da Vida? 1

Discordo de Zeca Pagodinho quando diz “Deixe a vida me levar…vida leva eu“. A existência é uma dádiva que não pode ser desperdiçada como se fôssemos um barco à deriva. Há que se medir os ventos que inflam a vela; há que se aprender a pilotar a nau; há que se buscar rotas alternativas quando as corredeiras aparecem; há que se fazer portos seguros para atracar!

Para isso é fundamental ter a morte como um lembrete de que o tempo só em parte é governável e que chegará o dia em que o tempo não nos dará mais tempo. Cada instante é precioso demais. Saibamos usufruir com alegria sem perder a busca de sentidos que façam a vida valer ser vivida!

Vamos! Levante a cabeça. Pense em tudo que gosta na vida e que nesse momento você está deixando de fazer. Esse é o caminho para o sentido da vida: viver e ser; viver e construir com liberdade!

Erasmo Ruiz

Carpe Diem

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