Memorial Vale da Saudade

A Complexidade do Suicídio

Texto extraído do podcast Thanatocast. Caso se interesse por escutar-lo, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Erasmo Ruiz

Introdução

Pra gente tentar entender um pouco da complexidade suicídio, é quando a gente fica sabendo que uma pessoa cometeu suicídio, é como se a gente chegasse a um cinema vendo o filme nos seus dois últimos minutos e a partir dos dois últimos minutos do filme a gente quer entender o contexto completo da história né? E na maioria das vezes, vendo apenas os dois minutos do do filme, na sua parte final a gente não vai ter condições objetivas de entender como os personagens chegaram àquele contexto no final do filme.

Então é por isso que na maioria das vezes quando as pessoas querem entender o que aconteceu, elas vão fazer julgamentos absolutamente superficiais e equivocados, como eu já ilustrei. O fato de alguém cometer suicídio porque tirou o notas baixas não explica o ato suicido em si, isso é o final do filme. Parece que foi esse último impulso, o último empurrão, mas não é só isso, a gente tem que ver todo o contexto que leva isso e isso a maioria esmagadora das pessoas não vai conseguir entender mal e mal as pessoas que convivem com quem cometeu suicídio e entendem.

A comunicação com pessoas que tem comportamento suicida

Temos melhorado na questão da comunicação com pessoas que tem tentativa na questão do suicídio? eu estou falando isso porque em virtude do filme que eu assisti, “Um Filho“, né? O Hugh Jackman e Anthony Hopkins, com participação especial, onde o filho o tempo todo mesmo adolescente ele disse que não conseguia se encaixar no mundo e nem a mãe, nem o pai que eram divorciados eles citavam isso sempre corriqueiramente, conseguiam se comunicar de forma eficaz com ele pra poder entender onde estava a dor dele. E tem uma cena que ele fala de maneira muito forte dizendo que ele não se sente nesse mundo, que não é pra ele, que esse mundo aqui não pertence, que ele simplesmente não consegue se encaixar e que ninguém tá entendendo.

Então assim, eu achei o filme bem impactante, as falas foram bem fortes com relação a isso e provam um pouco da questão, porque o pai começa a pressionar o filho sobre a questão porque que ele não está indo pra aula e começa a repetir alguns padrões que o pai dele falava com ele. E há uma inquietação até depois um spoiler né? com relação a isso, mas uma inquietação depois pela pela precariedade na comunicação. O tempo todo dando lições quando na verdade o que o filho precisava talvez era de um acolhimento ou de um entendimento ou de alguma coisa. Então essa falha de comunicação ela ainda continua, temos melhorado nisso, temos tanto desmistificar a questão do suicídio, melhorado nessa questão da comunicação?

Infelizmente não. Você tem hoje alguns fenômenos que chamavam menos atenção no passado pela ocorrência ser evidentemente menor, caso por exemplo de suicídio entre adolescentes. Então claro que isso pode ser devido a várias causas, mas parece que essa dificuldade de relacionamento intergeracional
de pais e filhos, parece atingir todas as classes sociais evidentemente de uma maneira diferente de uma classe pra outra.

Os mais pobres tem dificuldades em manter contato com os seus filhos ou muitas vezes tem a vida desestruturada pela ausência de trabalho, por exemplo nas situações de crise econômica, e boa parte daquilo que a gente vai chamar de “classe média urbana” os pais estão envolvidos em atividades de trabalho que se no passado elas tinham a quantidade fixa de tempo, oito horas, dez horas de jornada, hoje um advogado de sucesso, um médico famoso, ele não vai trabalhar oito ou dez horas por dia, muitas vezes ele vai trabalhar treze, quatorze, quinze horas, delegando uma atenção afetiva emocional pros filhos, não mais pra si mesmos, mas pra empregados em casa.

Então isso vai criando certas dificuldades pra que os jovens encontrem referência e isso em tese ajuda a gente a entender um certo perfil que às vezes surpreende as pessoas que a gente chama de “delinquência de classe média”, pessoas que em tese teriam tudo pra terem uma vida social ajustada e não tem por quê? porque elas perdem a referência a partir dos seus próprios pais, noções de certo e errado, perspectivas de futuro, e para alguns indivíduos mais sensíveis, seja por fatores ambientais, seja por fatores de ordem genética, sejam por fatores culturais ou a mistura complexa disso tudo, esses indivíduos mais sensíveis podem estar expostos a um maior risco de cometer suicídio.

Plano funerário Memorial Vale da Saudade
A Complexidade do Suicídio 1

O suicídio na adolescência

Então a gente estava falando um pouco sobre a questão da comunicação, existem umas pesquisas que falam que com essa geração mais nova, elas tendem a não gostar tanto das redes sociais, né? Uma próxima geração, porque elas perderam muito da comunicação com os seus pais ou da referência dos seus pais em virtude das redes sociais. Isso diminui, como a gente tava falando na questão da comunicação, da nossa falta de competência na comunicação com os nossos filhos no entendimento, seus sentimentos e tudo, isso pode diminuir muito mais ainda o contato, né? Essa proximidade de relacionamento de comunicação mais aberta com os filhos. Isso pode ser um fator agravante na questão de pensamentos dessa natureza?

Então, em tese sim, por exemplo, hoje em dia as pessoas elas se surpreendem muitas vezes pelo fato de que cada vez mais adolescentes estão cometendo suicídio. E a adolescência é uma fase de transição onde você muitas vezes está buscando referências de pessoas significativas na sua vida. Se essas pessoas não se comunicam de uma adequada com você, seja por pressões ou determinações econômicas, históricas, seja por um ato até de vontade, isso obviamente vai causar problemas, pra que a pessoa possa estabelecer aspectos muito importantes da sua identidade. Então na verdade os mais velhos ou os nossos pais, em tese mesmo de uma forma contraditória, eles nos apresentam um mundo.

A gente pode até aceitar a forma como esse mundo é apresentado ou não, ou pelo menos aceitar de uma maneira relativa. Entretanto precisa haver essa apresentação, que a gente chama basicamente de um “processo de socialização”. Na medida em que os jovens ou os adolescentes tenham dificuldade de a partir do contato com seus pais produzirem sentidos, significações pra própria vida e a inserção dessa vida no mundo, aí a gente está vivendo aquilo que o Viktor Frankl chama de “crise de sentido”. Então filosofando o que o Albert Camus chamava de absurdo. Então, a tese clássica do Camus, “que a vida é um absurdo e que o grande problema que se coloca pro ser humano é se ele deve cometer suicídio ou não. Diante do absurdo e a saída desse conflito é, produzir sentido pro absurdo”.

O “Absurdo”

Por isso que é importante a comunicação, o tempo todo nós estamos tentando oferecer diretivas aos nossos filhos pra que se contorne a percepção de absurdo. Ah professor o que que é o absurdo? O absurdo é você simplesmente olhar o futuro e pensar, pra que que serve a vida? pra que eu trabalhe e tenha filhos, tente acumular alguma riqueza pra depois morrer? Qual é o sentido disso tudo? O sentido disso tudo vai ser construído a partir daquilo que você de fato deseja fazer da tua vida, quais são os seus projetos e boa parte das vezes isso não é a única causa mas boa parte das vezes alguém que comete suicídio está diante da perspectiva de vazio absoluto de projetos pra própria existência.

Então nesse sentido é extremamente importante que nós tenhamos uma comunicação mais saudável e aí a gente abre o leque, não é só com os nossos filhos, é com todo mundo que a gente ama, é com todo mundo que a gente acha importante nas nossas vidas. E esse é um grande problema, porque hoje em dia as pessoas elas estão vivendo em ilhas, em ilhas de si mesmas, então o problema não tá no uso abusivo de celular, o problema não tá no uso abusivo de telas de computador, na verdade, tem uma outra pergunta que a gente deve tá se deve buscar responder, Por que que as pessoas buscam tanto o uso do celular? O que que ta faltando? eu acho que está faltando muito mais essa possibilidade de você viver relacionamentos mais autênticos.

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Erasmo Ruiz

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast ThanatosCast, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts e Youtube.

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