Memorial Vale da Saudade

O Luto de pessoas que perderam familiares pelo suicídio

Texto extraído do podcast Thanatocast. Caso se interesse por escutar-lo, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Erasmo Ruiz

Introdução

Todas as vezes que nós perdemos uma pessoa importante em nossas vidas, isso causará impactos profundos que vai determinar formas de expressão de sentimentos e sofrimentos. Entretanto parece que o suicídio ele se expressa de forma diferenciada para essas pessoas, tornando aparentemente o processo de luto mais difícil por conta disso que você mesma já disse, o suicídio é um tema tabu e expressa uma situação que em tese as pessoas acham que poderiam ter feito alguma coisa pra que o ato do suicídio deixasse de acontecer.

Código de conduta da imprensa

É inclusive nos próprios velórios, nas próprias é confirmações com relação ou divulgações da questão da morte, não se costuma falar muito da forma né. O suicídio ele se omite no momento da exclamação com relação a questão da perda.

Há um código de conduta na imprensa que sinaliza que quando alguém morre deve se evitar ao máximo a referência ao suicídio e se caso isso não seja possível. Por exemplo na morte de celebridades que se deva omitir métodos utilizados, isso porque já se sabe que esse tipo de situação pode determinar com que pessoas que se identifiquem com a vida, aspectos emocionais, possam se sentir motivadas a cometerem um ato parecido.

Estigma ou proteção?

E no fundo você acha que isso é um estigma ou de fato é uma proteção?

Eu acho que retrô alimenta as duas coisas né. Existe uma música que todo Mundo conhece do Renato Russo chamado pais e filhos que pra mim no campo da arte dá uma das melhores definições sobre suicídio né quando fala da moça que vivia num ambiente luxuoso né mas que de repente se mata se jogando de um prédio, e aí ele diz “nada é fácil de entender”.

Então no campo do suicídio parece que tá um pouco por aí, se a gente pega os estudos a gente vai encontrar tendências que diferenciam países que cometem mais ou menos, pessoas que cometem mais ou menos suicídio, a gente vai encontrar diferenças de gênero, a gente vai encontrar diferenças de faixa etária, o problema é explicar ou tentar entender porque determinado indivíduo específico tenha cometido suicídio.

Você falou em velório e um dos assuntos mais recorrentes em velórios de suicidas, por exemplo, é exatamente isso, é tentar buscar uma causa e normalmente a maneira como se tenta explicar ela é sempre superficial e mecânica reduzindo o suicídio enquanto um evento complexo para um evento “simples”.

Então, cometeu suicídio porque perdeu um emprego, cometeu suicídio porque tirou uma nota baixa no colégio, cometeu suicídio porque foi traída pelo marido, se buscam determinadas causas mas é sempre muito mais complexo. imagine né se todo mundo que tivesse tido um mau desempenho acadêmico cometesse suicídio, a quantidade de suicídio seria enorme.

Então na verdade o suicídio é um fenômeno multideterminado, ele tem várias causas que se interdeterminam pra gerar o processo do suicídio num indivíduo específico.

Depressão comprovada é o fator para o suicídio?

É necessariamente, pelos próprios estudos, que haja um estado depressivo comprovado?

Isso é motivo de polêmica até hoje, o que já se sabe que realmente há uma relação entre maior possibilidade de suicídio entre pessoas com depressão, embora muitas vezes o suicídio possa ser cometido por indivíduos que não tenham necessariamente diagnóstico ou comportamento rotulado como depressivo. Por exemplo as situações que a gente chama de gatilhos, você tem indivíduos que aparentemente estão muito bem né, podem inclusive não ser diagnosticados com depressão mas passam por uma situação limite como perdas de entes queridos por uma situação súbita ou violenta, por exemplo. Pessoas que passam por uma sequência de perdas muito grande, perder três, quatro membros de uma família num acidente de trânsito, por exemplo.

Isso pode criar uma circunstância que naquela situação, com aquele indivíduo específico sem histórico anterior claramente visto, esse indivíduo possa sim infelizmente cometer suicídio.

Plano funerário Memorial Vale da Saudade
O Luto de pessoas que perderam familiares pelo suicídio 1

Medicações

Algumas medicações que elas ajudam no sentido de controlar os impulsos suicidas, isso porque não sei se você talvez concorde, existe dentro de algumas pessoas já o pensamento ou o impulso que às vezes controlado por medicação, uma vez não tendo, possa ocasionar esse súbito de cometer de forma brusca algo que tava talvez até alimentado mais quieto dentro da mente?

Não há como responder essa pergunta de uma forma genérica né, até porque muitas vezes a função da medicação não é controlar necessariamente o impulso, mas é estruturar uma situação neuroquímica que tente retirar do indivíduo aquela sensação muito desagradável que se sente psiquicamente quando você está vivendo um processo de depressão.

Eu ilustro, por exemplo, aos meus alunos que essa sensação é como se você conseguisse ficar o tempo todo numa prisão mental onde você só pensasse num vazio absoluto e não conseguisse se libertar disso né. Então a função de um antidepressivo, por exemplo, é criar aquilo que a gente chamaria de uma máscara neuroquímica pra fazer com que o indivíduo não fique preso a essa sensação mas aquela história, pode funcionar com algumas pessoas pode não funcionar com outras e insisto, não é só a depressão que pode levar uma pessoa a cometer suicídio.

Introverssão & Depressão

Uma pessoa de caráter mais é introvertido, ela que tem uma ponderação mais profunda sobre a vida existe algum estudo que possa indicar que o comportamento dela, pode ser de alguma forma, depressivo e pode levar algum tipo de crise na questão de pensamento suicida ?

Não há uma correlação absoluta entre pessoas introvertidas com comportamento depressivo, por exemplo. Inclusive você tem situações onde as pessoas com depressão, pra que consigam estabelecer em termos práticos o melhor contato social, elas podem perfeitamente dissimularem os sentimentos de tristeza e sofrimento.

Né a caso por exemplo aquela velha tese “O palhaço ri pra não chorar”, então é mais comum do que a gente imaginaria entre humoristas por exemplo, a expressão de comportamentos depressivos o caso mais famoso é o Robin Williams mas se a gente procurar bem a gente vai encontrar outros exemplos. Então é muito difícil responder a esse tipo de pergunta se é um contato social saudável é um elemento importante pra estabelecimento de uma boa saúde mental a gente poderia até arriscar a dizer que pessoas mais introversivas podem ter problemas emocionais entretanto tem pessoas introvertidas que se adaptam muito bem a essa estrutura de comportamento a esse modo de vida e aí sim serem forçadas a construir muitos contatos interpessoais pode ser muito mais um fator de estresse do que promoção de saúde mental.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast ThanatosCast, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts e Youtube.

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