Memorial Vale da Saudade

Os sentimentos mais comuns entre os enlutados pelo Suicídio

Texto extraído do podcast Thanatocast. Caso se interesse por escutar-lo, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Erasmo Ruiz

A percepção do outro

Estamos percebendo menos o outro? Isso está ocasionando essa falta de sentido, essa solidão? que eu acredito que seja mais coletiva.

É um paradoxo, porque lembra daquel brinquedo antigo que tinha nos parques de diversão, que a gente chegava e olhava os espelhos, eles distorciam a nossa imagem, então ela uma hora você estava fininho, outra hora você estava mais largo, baixinho, alto, né. Eu acho que a gente está aprendendo a ver as pessoas muito mais por aquilo que elas não são. Ou seja, nós estamos aprendendo, quando as pessoas dizem o mundo do Instagram, o que é o mundo do Instagram? o mundo do Instagram é dos restaurantes com as fotografias dos pratos bonitos, das pessoas rindo e brindando, o que parece estruturar uma cultura de imposição da felicidade absoluta.

Cada um de nós sabe que a vida infelizmente não é só prazer, é sofrimento, é dor, aliás, se nós não sentíssemos dor e sofrimento, a gente não teria elementos pra julgar aquilo que é de fato prazeroso, aquilo que de fato é feliz. Nós estamos aprendendo a ver nos outros uma imagem dissimulada que as pessoas fazem delas mesmas e aí isso nos leva a um problema, quem de fato somos nós, quem de fato são as pessoas que se comunicam com a gente? Será que dá pra julgar o Erasmo a partir do perfil do instagram? Em parte dá, mas só saberão de mim se conviverem comigo.

Suicídio por gênero

Professor, continuando na questão de pós-venção ao suicídio, com relação a questão do gênero, existe alguma diferenciação? Homens, mulheres, há um estudo sobre isso?

Há vários estudos apontando tendências, então por exemplo, se sabe que tendencialmente mulheres tentam mais do que homens cometerem suicídio entretanto os homens eles são mais eficientes no resultado final. Isso tem a ver com métodos utilizados, tem a ver com uma certa postura dos homens
em terem comportamentos mais agressivos e autoagressivos, não vou entrar em discussão sobre os métodos que são utilizados, mas vamos dizer assim, que os homens, “tem mais competência” no sentido de produção do resultado final.

Estigmas impostos aos homens

O não falar sobre isso, esse estigma que tem do homem ter que preservar seus sentimentos ou a sua masculinidade poderia tá em prova com relação a isso, tende a fazer com que os homens guardem esse sentimento e seja mais eficazes?

Olha é é uma hipótese interessante, a gente pode pensar nisso. A gente vive numa cultura de marco que que ela é machista, essa expressão do machismo implica em que os homens tenham um viés de controle emocional maior que é a velha máxima, “homem que é homem não chora”, o que na verdade não é uma determinação de ordem biológica é mais algo que foi criado pela cultura. Porque se nós olhamos o passado ou se nós olhamos outras culturas existe aquilo que a gente chamaria de manifestação de emotividade viril.

O que que é a manifestação de motividade viril? A gente encontra nos relatos antigos das crônicas medievais. Por exemplo, quando alguém perdia um companheiro numa batalha, ele simplesmente chorava, gritava, a Bíblia tem vários relato de pessoas rasgando as vestes, jogando cinza no rosto, chorando, homens OK? Hoje a gente vive uma situação que é muito complicada, os homens são estimuladus a não compartilharem suas emoções e as mulheres começam a adentrar numa seara que eu acho perigosa.

Então vamos lá, vou tentar me explicar melhor. Hoje em dia as mulheres tendencialmente poderão cometer mais suicídio, não quero ser catrastofista, mas por que que eu estou dizendo isso? Porque elas estão entrando num ritmo de vida, primeiro em contato com muitos valores que a gente chamaria de cultura machista,esse é um aspecto. Outro aspecto, as rotinas de trabalho muito mais estarfantes que levam a um aumento do nível de estresse significativo. Então aquela velha história as mulheres não tem uma única jornada de trabalho, elas costumam ter duas e em algumas situações, até três. Descansam menos e começam de uma certa forma assimilar maus hábitos dos homens. Por exemplo, fumar mais, beber mais.

Se você junta tudo isso as primeiras consequências, aumento de doenças crônico degenerativas, incidência de doenças coronarianas. Antigamente era mais raro uma mulher ter ataque cardíaco, hoje está se tornando relativamente comum, a expectativa de que isso aconteça. E portanto se há uma relação íntima entre níveis de estresse e possibilidade de suicídio que já foi demonstrado pelas pesquisas, é previsível que cada vez mais, se nada for feito em termos de prevenção, as mulheres possam cometer suicídio e assimilando a cultura machista, buscar métodos mais violentos pra se fazer.

Plano funerário Memorial Vale da Saudade
Os sentimentos mais comuns entre os enlutados pelo Suicídio 1

Gupo de pósvenção ao suicídio e os sentimentos mais comuns

O professor conduz um grupo de pósvenção ao suicídio na empresa Memorial Vale da Saudade, né? No Cemitério Memorial Vale da Saudade, o que é interessante esse papel ativo de um cemitério. Quais são os sentimentos predominantes dentro desse grupo com relação a questão, os sentimentos que mais predominam, as palavras que são mais faladas, o que é mais exaurido pelas pessoas que perderam entes familiares, pessoas amadas pro suicídio?

Vamos lá, existe uma expressão na psicologia do luto que é uma metáfora que diz o seguinte: todos nós temos impressões digitais, embora todas as nossas impressões digitais sejam diferentes. A gente pode dizer a mesma coisa em relação ao luto. Todos nós quando perdemos pessoas importantes vamos expressar o sentimento de dor e sofrimento intensos. Só que cada indivíduo vai fazer essa essa expressão
de maneira muito diferente um do outro, ponto.

O suicídio ele tem determinadas situações que tornam determinadas falas comuns, que eu ouço muito nos grupos por exemplo, só que não confundir, essas falas comuns não expressam necessariamente realidades idênticas, pelo contrário, mas tem duas expressões que acompanham os lenlutados por suicídio e que fazem as pessoas sofrerem muito. Se uma pessoa morre idosa com cento e quatro anos, cento e cinco anos, as pessoas não vão ficar se perguntando o porquê que ela morreu. Há uma sensação de uma vida que foi longa e bem vivida.

Se um jovem de vinte e um anos comete suicídio? As perguntas mais recorrentes:
Mas “SE” eu tivesse percebido melhor o que tava acontecendo?” (então os “SE’s”, a cronicidade, o “SE”).
Ah e “SE” eu tivesse conversado mais?
E “SE” naquele dia, eu tivesse parado quando ele ligou pra mim pra conversar e eu disse que não podia? Então o “SE”, uma certa fantasia de volta ao passado pra tentar mudar as circunstâncias que impedissem as pessoas. Isso é um pensamento intrusivo, que vai compondo o mosaico complexo dos sentimentos.

Outra pergunta são os “porquês”:
-Por que que isso aconteceu? (que pode estar preso a várias racionalizações).
-Ele recebeu todo o amor que a gente dava.
-Nós somos uma família estruturada.
-Ela tinha tudo que precisava.
-Ah ele era um profissional de sucesso com cinquenta anos, tinha propriedades, tinha carro, tinha dinheiro.

O porquê a tormenta as pessoas e por uma razão singela, nós somos seres que tem que estabelecer sentido as coisas pra entender a realidade. Mesmo que esse sentido sejam falsos ou equivocados.

Então as coisas tem que ter um porquê, das coisas mais simples, o feijão queimou porque não se desligou a panela antes do tempo, evidência clara cristalina. Agora por que alguém no auge da da sua vida com toda a potência de tudo aquilo que ainda poderia viver, cometeu o suicídio é algo atormentador e por quê? Porque na verdade quando você convive com uma pessoa que cometeu suicídio invariavelmente as pessoas se sentem de alguma forma corresponsáveis, envolvidas, iai isso determina uma confusão de sentimentos.

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Erasmo Ruiz

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast ThanatosCast, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts e Youtube.

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