Texto extraído do podcast Thanatocast. Caso se interesse por escutar-lo, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts
Sumário
Qual é o papel da espiritualidade para pessoas enlutadas?
Olha o papel da espiritualidade é muito importante na vida do ser humano em vários aspectos e eu diria que na problemática do luto ela pode ser de fundamental importância. Eu brinco dizendo, que muitas vezes as pessoas dizem ter espiritualidade, mas é como se elas tivessem um motor de uma Ferrari dentro de um fusca, ou seja, o fusquinha não vai ter aerodinâmica suficiente para fazer com que a velocidade que uma Ferrari tenha se desenvolva. Então hoje em dia me parece que as pessoas não utilizam a sua expressão de espiritualidade como deveriam, pelo menos, a maior parte das pessoas.
Então o que significa utilizar a espiritualidade de uma maneira mais adequada? É efetivamente usar da fé, usar da sua concepção religiosa para buscar muito mais conforto do que aspetos que possam ser negativos. Então, por exemplo, vamos pensar na discussão que existe em torno da problemática do suicídio, muitas vezes as pessoas produzem adjetivações muito negativas das pessoas que cometeram suicídio e, entre essas expressões negativas, a ideia de que o indivíduo que cometeu suicídio não teria Deus no seu coração ou a afirmativa de que essas pessoas, as pessoas que cometeram suicídio, iriam para o inferno.
Construção simbólica
Tanto uma situação quanto outra é extremamente negativo para as pessoas que perderam seus entes queridos, eu não vou entrar em nenhuma discussão teológica a respeito disso, até porque eu não sou teólogo, mas em torno das minhas crenças pessoais e daquilo que eu sei em relação algumas pessoas que cometeram suicídio, trabalhos que estudam, inclusive cartas, bilhetes, a ideia de que essas pessoas não teriam Deus em seus corações me parece absolutamente equivocada. Na verdade, é uma construção simbólica que nós fazemos para oferecer sentido a algo que a gente acha absolutamente sem sentido, esse é um aspecto.
O julgamento
Em segundo aspecto é quem somos nós para afirmar que uma pessoa que cometeu suicídio necessariamente iria para o inferno? Não existiriam aí outras mídias somas para a gente pensar, será que a gente não estaria se colocando no lugar de Deus ao fazer uma afirmação dessas? Então são coisas que a gente refletir, mas independente de entrar na discussão dos critérios de verdade ou falsidade, eu acho que especulações como essas de fato, não trazem conforto para as pessoas que ficaram e as pessoas que ficaram devem sim usar da sua espiritualidade para buscar conforto e, em algumas circunstâncias, assumirem até como uma decorrência natural desse processo, colocar em dúvida as suas concepções religiosas. Algo muito comum, por exemplo, em enlutados, não é não só pela perspectiva do suicídio, mas parece que essa questão entre as pessoas que perderam entes queridos por suicídio, ela se torna mais marcante.
A ideia de que existiria um Deus que poderia ter interferido naquele momento e impedido que o suicídio acontecesse, isso atormenta muitas vezes a vida das pessoas. Aceitar essa possibilidade, é algo que acha uma decorrência natural discutir a respeito disso é necessário e eu recomendo que as pessoas que têm de fato valores espirituais, que tem um grupo onde se frequenta, igrejas, não importa a denominação, que elas possam usar de espaços para discutir aquilo que elas servem, se afastar de pessoas que façam interpretações com base numa espiritualidade que eu chamaria de uma espiritualidade negativa, que só fica olhando essas situações sobre o prisma da punição e que procure encontrar conforto nas suas crenças.
Não deixe isso para o segundo plano. Como dizia o grande mestre: Eu sou a luz e a vida é aquele que creditar em mim não morrerá (João 11:25). Então, na verdade, se você tem essa crença em última instância, o seu ente querido não morreu, pense nisso.
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