Parece um contrassenso pensarmos que a morte poderia ser celebrada com alegria. Estamos acostumados a imaginá-la associada apenas a dor e sofrimento. Entretanto, existem alternativas que pode nos deixar surpreendidos.
No México comemora-se o “dia de los muertos” com muitas cores, festas, bebida e comida. Existem algumas razões para isso. O culto a morte no México não é uma coisa recente. Pesquisas arqueológicas indicam que civilizações pré-colombianas já faziam festejos associados a morte por volta de 2.000 anos antes de Cristo. “O festival que se tornou o Dia dos Mortos comemorou o nono mês do calendário solar asteca“, por volta do início de agosto, e era celebrado por um mês inteiro. Festas eram presididas pela deusa Mictecacihuatl , conhecida como a “Dama da Morte” (agora relacionadas com ” La Catrina “personagem de José Guadalupe Posada ) e esposa Mictlantecuhtli , Senhor da terra dos mortos. As festividades eram dedicadas à celebração das crianças e as vidas de parentes falecidos” (Wikipédia).
De certa forma poderíamos relacionar os festejos de los muertos com o nosso carnaval brasileiro com festividades acontecendo nas ruas e ambientes fechados. Os festejos mobilizam as pessoas por todo o mês de outubro alcançando seu ápice no dia 1 de novembro com a ida dos vivos aos cemitérios retribuindo a visita que tiveram dos mortos no dia anterior em suas casas. Mas essa visita é cercada com muita música, bebida e comida.
Tudo isso ocorre com base numa estética viva e colorida. O símbolo da caveira invade as casas e as ruas, mas não nos sentido mórbido e triste que estamos acostumados. Elas são pintadas de forma colorida com ênfase em decorações florais. Nas padarias cestos em forma de caixão oferecem às pessoas os “pães dos mortos” , que pode ser um biscoito doce que é cozido de diferentes maneiras, desde simples formas redondas até crânios adornados com formas de osso feitas com o mesmo pão. As escolas reforçam as determinações culturais da festa nas crianças inserindo de forma viva a importância do dia de los muertos para a preservação das tradições, fruto do sincretismo entre a cultura asteca e hispânica.
Fico imaginando se não temos algo a aprender com isso tudo. Vendo as alegorias mexicanas sobre a morte, parece que os mortos estão mais felizes que os vivos e acaba por contagiá-los com essa alegria. Talvez devêssemos celebrar a morte porque ela sinaliza com clareza o real valor que nossa vida possui e o quanto desperdiçamos nosso precioso tempo com ações e projetos onde nosso nível de interferência é praticamente nulo. Las calaveritas, ao sorrirem para nós, estão na verdade fazendo um convite para que possamos viver mais intensamente. Assim, a semelhança do que acontece no México, só posso desejar a você caro leitor um “Feliz dia de los Muertos” no dia de Finados!
Erasmo Ruiz