Cuidando das memórias afetivas no seu luto

Nem tudo é perdido ao perder quem amamos. As memórias continuam tão vivas ou até mais vivas que antes. Lidar com essas memórias em um luto agudo, recém iniciado pode ser muito difícil, afinal, nossas memórias são permeadas por afetos, por emoções de momentos que foram, de alguma forma, marcantes e importantes para você (mesmo que não tivesse essa consciência quando a pessoa era viva). O luto nos entrega uma chave para portas de memórias e saudades e aprender a lidar e cuidar delas é essencial para seu processo. Cada pessoa terá sua forma de desenvolver esse cuidado; no episódio de hoje, você encontra algumas sugestões, como criar memorias, caixa de memórias (mochilas de memórias), datas dedicadas para essas memórias, cartas e soltura de balões, receitas favoritas e ensinadas por essa pessoa, dentre outras possibilidades.

Aperte o play, escute ou leia com carinho e implemente ao menos um cuidado hoje com suas memórias. Aos poucos o cuidado com você vai se tornando mais frequente e com sentido. Acredite!

Introdução

Nem tudo é perdido, após perder quem amamos. No início pode parecer que sim, que existe essa dificuldade de rememorar momentos felizes e passados porque o trauma da perda ainda é muito recente. Então pode ser que você se veja nesse redemoinho de memórias que antecedem o momento da partida dessa pessoa. São memórias de traumas, memórias que podem te atrapalhar para dormir, podem dificultar a sua rotina diária, mas resgatar as boas memórias é essencial no seu cuidado do luto. Afinal você vai perceber, ao longo do seu processo, que essas memórias continuam tão vivas ou até mais vivas do que antes da perda dessa pessoa.

A chave

O luto nos entrega uma chave para portas de memórias e saudades inimagináveis. Aqueles lugares que mesmo tão escondidinhos aí dentro da sua memória, começam a ressurgir. As memórias afetivas têm muita conexão com os seus sentidos. O cheiro do café fé, aquele cheirinho do bolo de fubar no fim da tarde, um filme, uma brisa diferente no ar, o céu azul, um formato de nuvem… tudo isso, cada detalhe, passa a fazer parte dessas suas lembranças. E convenhamos, é muito bom lembrar com amor e alegria de quem nós amamos.

É importante você considerar que cada pessoa terá a sua própria forma de lidar e cuidar dessas memórias. Talvez inicialmente você vai tender a negar, a não querer ter tanto contato com esses momentos que também foram muito bons, porque eles doem, aumentam a saudade e te lembram que novos momentos não poderão ser construídos. Mas alimentar as boas recordações, memórias, essa história que foi linda também, que foi real, é essencial pro seu cuidado no seu luto. Então lembre-se, cada pessoa terá a sua forma, mas é importante que você cuide desse momento dentro da sua perda.

Formas de memorar

Você vai encontrar essa forma de cuidar de acordo com o que fizer sentido dentro da sua história, mas eu vou te trazer algumas sugestões.

• Eu já tive pacientes que montaram uma mochila de memórias, foi decisão dessa pessoa, ficar penas com aquilo que coubesse em uma mochila. E dentro dessa mochila ficou então, aquilo que mais lembrava essa pessoa. Pode ser um par de tênis, uma roupa, um cd, música, pendrive, coisas que te tragam um pouco mais dessa pessoa em sua vida;
• As caixas de memórias têm a mesma função. Você pode personalizar também com aquilo que dá a cara dessa pessoa. Nós não precisamos nos forçar a esquecer quem nós amamos, mesmo com a perda. O luto dói, a perda dói, mas ele também é uma resposta a esse amor que foi vivido, a essa história real com os seus momentos de perfeição e com seus momentos de imperfeição também. Lidar com o luto é reconhecer cada detalhe, até mesmo aqueles mais irritantes em relação a essa pessoa, que todos têm não é mesmo. Então busque essa realidade desse luto, dessa história;
• Outra sugestão muito bacana que eu já vi em alguns livros e também no Instagram, é você criar uma data como se fosse um feriado dedicado a essa pessoa. Nos Estados Unidos, tem algumas datas que as pessoas lançam hashtags no Instagram, como se fosse #odiadohamburguerdobob por que aquela pessoa amava comer McDonalds. Então a família criou o dia dedicado a ele em que todos os amigos e familiares vão comer McDonald’s, postar as suas homenagens e marcar hashtag pra que isso fique marcado ali nas redes sociais também. E eu achei essa ideia muito bacana. Também tem uma outra história em que a pessoa amava bolos, cookies, docinhos e criaram o dia em homenagem a essa pessoa, só que a família e os amigos produziam os docinhos e bolos pra entregar em lugares com crianças carentes e tudo mais e eu achei uma ideia muito bacana também;
• Você pode também escrever cartas em datas específicas ou em momentos em que as suas emoções estão precisando ser externadas um pouco mais; essas cartas podem ser entregues, vamos dizer assim, através de soltura de balões. É um ato simbólico, uma forma de cuidar da sua memória e da sua conexão com essa pessoa.

Encontre formas que faça sentido, que tenha ligação com essa pessoa. Pra isso você vai precisar dedicar um tempo, até mesmo fazer uma lista e escrever quais as características desta pessoa que mais estão presente no seu dia a dia, o que te faz lembrar ela. Eu acredito que você possa até me dizer, tudo me faz lembrar ela. Ok, eu acredito piamente nisso, mas detalhe, o que é tudo? é um café da manhã? o cheiro desse café da manhã? é um trajeto pro trabalho? é a playlist que você escuta no seu carro?

Detalhe isso pra você por energia e sentido nesse detalhe de memória e poder cuidar através das memórias afetivas. Assim você vai estar trabalhandoa sua conexão com essa pessoa.

Conexão

A conexão pode existir para além de um contato físico. Nós estamos tão acostumados com esse contato físico mas ele pode existir para além, o amor existe além daquilo que a gente pode ver. Ele está nos sentidos, e eu tenho certeza que você sente essa pessoa em conexão com você. A saudade, as lembranças, tudo isso continua muito vivo. Então dentro dessas possibilidades, encontre uma que possa caber na sua vida.

Fazer uma playlist, por exemplo nesses bancos de música, em homenagem a essa pessoa também é algo bem bacana de se fazer. As músicas que ela mais ouvia, as músicas que vocês costumavam ouvir juntos, músicas de momentos especiais de vocês. Lembre-se que especial não precisa ser algo grandioso, é o detalhe, é aquilo que fica marcado em você.

Então que esse episódio possa ter te ajudado a pensar e refletir mais nas suas memórias afetivas, a cuidar desse seu luto. E deixe pra nós nos comentários, se você gostou desse episódio, se te ajudou, o que mais você quer ou vir por aqui que mais você gostaria que nós trouxesse de informação de acolhimento pra voc ênós vamos produzir com muito cuidado e carinho. Um forte abraço, nos vemos um próximo sábado.

Como ter ajuda?

Sabemos que passar pelo luto é muito desafiador, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

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Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music

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