A ideia de que a morte seja um acontecimento tão traumático que devemos proteger o máximo possível a infância de participar de seus rituais e outras exigências sociais e culturais é algo relativamente recente na história do ocidente.
Num passado não tão distante as crianças participavam de todos os passos da morte. Elas mesmas eram indivíduos mais diretamente ameaçados devido as precárias condições de vida.
Existe uma farta iconografia mostrando desenhos e pinturas sobre a presença de crianças diante dos eventos relacionados a morte e ao morrer.
Com justa razão muitos argumentariam que devemos proteger nossos filhos de experiências dolorosas. Assim, não veem sentido em levar crianças para visitar moribundos, participarem de velórios ou visitarem túmulos. Ora, pergunto sempre se essas medidas impedirão a criança no futuro de experienciar a morte. Obviamente que não.
A infância é o espaço onde nos socializamos, momento em que nossas individualidades assimilam senhas que permitem tomarmos posse de toda uma identidade coletiva, útil para nos tornar sujeitos comunicantes com eficiência.
Mas aversão que os adultos têm a morte rouba das crianças os espaços adequados para aprenderem as senhas que um dia as tornarão competentes para lidar com as perdas das pessoas que hoje querem protege-las.
São os ritos que nos ensinam a cultuar lembranças como lenitivos que nos consolam da saudade. Com os ritos aprendemos que a dor se torna mais leve quando temos nos outros nosso suporte afetivo e emocional.
Ao trazermos as crianças para o em torno da morte, sem que nos apercebamos, estamos ensinando a elas a como lidar com a nossa morte.
Quem parte precisa se despedir. Os mortos precisam ser velados em espaços onde amigos e familiares possa estar juntos para apoio mútuo. Os mortos precisam ser lembrados como uma garantia que nossa existência não se perderá de todo nesse mundo.
Aproximar as crianças da vivência da morte é também as aproximar de uma maior profundidade com a vida pois a morte faz parte do existir.
Erasmo Ruiz
Carpe Diem