Memorial Vale da Saudade

Vivendo em um mundo sem a minha mãe

Neste episódio trago algumas reflexões sobre aprender a viver no mundo sem a mãe. Sabemos que não é fácil. Mas será que é possível?

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Priscila Gauna

Texto do episódio

Há alguns dias tive contato com o vídeo que a Claudia Raia postou em seu instagram sobre a
perda de sua mãe. Uma fala que me marcou muito foi: “Quando eu perdi minha mãe, senti que
não tinha mais casa pra voltar. A sensação que dá é assim: estou perdida no mundo, não tenho
ninguém para me segurar”.

Pode ser que ao perder sua mãe, essa seja sua sensação: a de não ter lugar pra voltar. Aquele
mundo que você conhecia, não existe mais. Tudo mudou pra sempre. Pode ser que você se
sinta abandonado ou abandonada, se sinta só, pode acontecer, inclusive, que questione como
será sua vida sem ela, se terá forças para sobreviver à essa perda.

É possível que em algum momento, ainda que por breves segundos, você se esqueça do que
aconteceu. E nesse dia, talvez você coloque um prato a mais na mesa. Ou pegue o celular
para mandar uma foto do seu cachorrinho que está fazendo alguma bagunça e então você se
lembra, e ao se lembrar, talvez chore.

Há a possibilidade de que em um dia de chuva, você se esqueça o guarda-chuvas e isso seja
algo que te emocione, ao se lembrar que sua mãe teria dito para levá-lo caso fosse sair de
casa.

Pode ser que apesar de ser uma pessoa adulta, você se sinta insegura ou inseguro sobre como
conduzir sua própria vida após a perda da figura materna. Em alguns momentos, pode se sentir
pequenininho ou pequenininha, precisando de colo. Talvez em algum momento sinta medo de
tomar decisões, pois ela não estará lá para ajudar, ou se sinta em dúvida em relação a criação
dos filhos e condução da própria vida. Isso não quer dizer que tenha algo de errado com você.

Precisamos nos lembrar, que o luto não é só tristeza. Essa vivência pode trazer os mais
diversos e possíveis sentimentos pertinentes aos seres humanos. O medo, a insegurança, a
tristeza, mas também raiva, culpa, frustração, inveja e outros que muitas vezes nem
imaginamos que poderíamos sentir enquanto vivemos o luto, como o alívio, a gratidão, e sim,
até a alegria.

Todos os sentimentos são inerentes a nós, seres humanos e é importante aceitar e se permitir
cada sentimento e emoção que aparecer. Em relação aos sentimentos tidos como negativos, é
necessário entender o que eles querem te dizer e trabalhá-los, não alimentá-los.

No mais… Sua mãe continuará sendo sua mãe. Ela continuará sendo parte de você. Ela
continuará sendo a mulher que deu um beijinho no seu joelho ralado. Que te viu crescer, que
ouviu tuas perguntas bobas de criança, que te ajudou a curar o coração na primeira vez que ele
foi partido. Ela foi a mulher que se divertiu, amou, teve uma história de vida, sonhou, realizou. E
você pode honrar a vida de sua mãe através do seu amor, dos seus atos e das memórias que
partilhava com ela.

Você não será mais o mesmo ou a mesma após a perda de sua mãe. Seu luto possivelmente
acontecerá de forma a fazer você se sentir em uma montanha russa de sentimentos. Muitas
vezes, vários ao mesmo tempo.

O luto não é linear, com começo, meio e fim, então… Você vai aprendendo a viver de uma
outra forma. Você entende que pode ser que a dor te acompanhe por muito tempo. Acolha-a.
Deixe que ela te acompanhe. A dor é parte. Como não doer, se alguém tão importante quanto
sua mãe faleceu? Se você não a amasse não haveria dor. Entrar em contato com esse
sentimento, também é acessar esse amor que está sem saber para onde ir.

Mas deixe também que outros sentimentos se aproximem. Se permita viver o riso, sem culpa.
Aquele sorriso que sua mãe amava ver. Se permita voltar a encontrar beleza nas pequenas
coisas.

No seu tempo.

Trouxe para vocês um poema do Carlos Drummond de Andrade que é bem famoso,
principalmente nessa época do ano, mas por um motivo bem especial. Ele fala da Mãe. O Poema se chama Para Sempre.

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.
Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

Deixo aqui meu abraço apertado em cada pessoa que me ouve e vive a experiência de viver
num mundo sem sua mãe.

Como ter ajuda?

Sabemos que passar pelo luto é muito desafiador, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music

Conheça o Memorial Vale da Saudade e tenha toda a tranquilidade que você precisa!

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No seu luto, sentiu como se parte de você também tivesse morrido após o falecimento de sua mãe?

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