Memorial Vale da Saudade

This is Us e o luto pelo pai

Esse episódio vem com spoilers para contar como a série This is Us nos convida a pensar sobre o luto pela perda do pai, além de tantos outros lutos, mas como é interessante que ao mesmo tempo, ela fale primordialmente sobre a vida e a importância das vivências comuns.

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Priscila Gauna

Texto do episódio

Hoje, quero compartilhar sobre uma série que venho assistindo há algum tempo e está na minha lista de preferidas, mesmo faltando algumas temporadas para terminar: This is Us.

Devo dizer logo no início: essa é uma série que pode te fazer chorar, aqui teremos spoilers, e com certeza não vou conseguir abarcar a grandiosidade da série por aqui! Lembre-se, ainda
não terminei de assistir, então sei que tem muitas histórias que não tenho como citar aqui,
porque não vi. 🙂

A família Pearson é composta inicialmente pelo casal Rebecca e Jack. Eles são daqueles casais gostosos de assistir, sabe? Ainda que em vários momentos da vida eles estejam vivendo dificuldades, o amor, companheirismo e respeito estão sempre presentes por ali. Quando Becca engravida de trigêmeos, eles precisam reorganizar a vida. Se preparam da melhor forma possível. Durante o parto, uma das crianças morre. Ali já temos o início de um luto que perdurará por muito tempo de forma velada. No mesmo dia, um recém nascido é deixado em um quartel dos bombeiros. Apesar da história que se desenrola ali, a criança acaba por ser levada ao mesmo hospital onde os filhos dos Pearson acabaram de nascer. Resultado? Eles optam por ficar com o menino, já que Jack se encantou por ele logo que o viu. E assim nasce o “Big Three” termo que eles usam para designar os três irmãos.

Os tantos lutos vividos por essa família reverberam em cada episódio de forma emocionante. Prepare o lenço. Confesso que pelo menos uma lágrima escorreu em quase todos os episódios que assisti.

E apesar de eu trazer muito sobre o luto aqui, não se engane: a série fala de vida! Fala da família e de como essa vivência familiar nos constrói enquanto pessoas. Talvez você reconheça muito de sua mãe na Rebecca e outro tanto de seu pai no Jack e também reconheça muito sobre sua própria vivência familiar nas questões abordadas na série. Ali são abordadas questões como abandono, alcoolismo, adoção, adição em drogas, construções familiares, relacionamentos, traumas, as escolhas de vida, entre tantas outras coisas. Você provavelmente se identificará com pelo menos uma ou outra coisa ali.

Os Pearson vivem uma vida… normal. O pai trabalha, a mãe cuida das crianças, o pai tenta estar presente na vida deles o máximo possível, Becca busca realizar seus sonhos, assim como o Jack, eles se realizam, se frustram, enfrentam as dificuldades, pensam em desistir, as crianças brincam, brigam, fazem bagunça, crescem, namoram, pensam sobre o futuro, o casal briga, se reconcilia, se aconselham com amigos, tem segredos, tem histórias bonitas pra contar e tristes também. Acredito que esse seja o motivo de tantas pessoas se identificarem tanto com a série. Através dessas vivências tão cotidianas e possíveis a série proporciona à nós, enquanto expectadores, a oportunidade de refletirmos sobre nossas próprias vidas. Sobre quem nos tornamos a partir dessas experiências vividas, sobre o que herdamos internamente
de nossa família – nossas crenças, nossos jeitos de ver a vida, e também sobre o que podemos fazer a partir disso, sobre quem queremos nos tornar, o que queremos reproduzir ou o que queremos modificar, o que não queremos passar adiante.

O luto pelo Jack é um dos mais percebidos durante a série e ressoa em todos os personagens. A série vai e vem se misturando em presente, passado e futuro, apresentando pedaços das histórias, amarrando pontas, revelando segredos enquanto os personagens vão vivendo seu luto. Isso é interessante porque vai mostrando que as vivências do presente são ligadas ao passado, e vão ressoar também em suas vivências futuras.

E quando eu falo de viver o luto, não quero dizer que todos vivem tristes chorando pelo pai, pelo marido ou pelo amigo. A vida de todos eles seguiu. As crianças cresceram, a mãe se casou novamente, com Miguel, o melhor amigo de Jack. Mas Jack segue vivo com eles nas memórias e também nas histórias que são compartilhadas com outras pessoas que não o conheceram, como as noras, genro, netas… E sim, eles ainda sentem a morte do pai.

A série mostra os lutos de Randall, que não conhece sua origem e, apesar de se sentir amado e amar sua família, sente que algo falta e encontra algumas dificuldades no seu caminho por conta do racismo. A série trata de forma tocante sobre esse luto em relação à sua origem, a forma como ele vai encontrando de lidar e de confrontar esse passado desconhecido. A aparição – e a partida, de William, seu pai biológico na série é algo transformador na vida de Randall, e posso dizer que na vida do expectador também.

Kate, a única menina do trio, luta desde pequena contra a obesidade. Enfrenta seus lutos com delicadeza e verdade: o luto pelo próprio corpo que tantas vezes é motivo de bullying durante a série. O luto pela perda gestacional e pelo sonho de ser mãe. O luto por seus sonhos que foram abandonados pela culpa que carrega no peito. As formas que ela encontra de lidar com tudo isso são carregadas de sentimentos intensos. Uma das cenas mais tocantes pra mim, é quando descobrimos seu segredo do Super Bowl. Todos os anos, no dia do Super Bowl (a final do campeonato de futebol americano) ela se isola. Não sabemos exatamente o motivo, mas depois descobrimos que é o dia em que ela assiste o jogo acompanhada pelas cinzas de seu pai, já que assistir esse evento com Jack era algo muito significativo para ela, então ela busca ressignificar essa vivência.

Já Kevin, o outro irmão é um ator famoso de Hollywood que odeia o papel que o fez ficar famoso. Acredito que esse personagem é o que tem mais dificuldade em lidar com o luto pela perda do pai. É como se ele adiasse por muito tempo viver esse luto, também por conta de algumas culpas que ele carrega dentro de si. Ele precisa lidar com questões como adição, abuso de álcool, e também com a forma como se enxerga como profissional, homem e filho. A busca por conhecer o pai através de pessoas e lugares que ele nunca viu é marcante. O resultado que vem dessa busca também. Algumas vezes, o resultado que temos não é aquele que esperamos e isso não quer dizer que isso é ruim, embora possa ser frustrante. Assim é a vida, certo? Vemos um personagem que amadurece a cada temporada, que se descobre e se permite viver o luto que foi adiado por tanto tempo.

Cada um deles é diferente do outro, apesar de terem vivido na mesma casa, com os mesmos pais, cada um deles experienciou a vida de formas muito diferentes. Um dia de brincadeira entre os três junto com os pais, teve um significado diferente para cada um. Essa diferença traz muita riqueza para a série, porque, apesar dela, eles são muito próximos – mesmo que em alguns momentos não se sintam ou não queriam que fosse assim.

Não consegui aqui e nem foi minha intenção, dissecar a série para vocês. Só quis trazer um pouquinho daquilo que mexeu e tem mexido tanto comigo, já que ainda não vi a série completa, mas que, independente disso, eu recomendo muito para pessoas que buscam obras que possibilitam momentos de reflexões profundas acerca de si mesmos, de seus relacionamentos, de sua origem, e claro, sobre vida e morte.

Como ter ajuda?

Se você está percebendo que precisa de ajuda, se está muito difícil, mais uma vez te digo, busque ajuda, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará em diversas plataformas de áudio.

Conheça o Memorial Vale da Saudade e tenha toda a tranquilidade que você precisa!

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Quais lições você tirou ao assistir a série ou quais reflexões esse episódio te trouxe?

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