Algumas pessoas dizem que quando a mãe morre, a sensação é de que parte do filho morre junto com a mãe. É possível isso? É sobre isso que vamos falar neste episódio.
Sumário
Texto do episódio
Maria Julia Kovács, um nome muito importante no estudo sobre morte, diz em um de seus
livros que: “A morte do outro configura-se como a vivência da morte em vida. É a possibilidade
de experiência da morte que não é a própria, mas é vivida como se uma parte nossa morresse,
uma parte ligada ao outro pelos vínculos estabelecidos.” E quando falamos da mãe, isso pode
ser sentido com muita profundidade.
Precisamos trazer aqui algumas questões: quando eu falo com vocês sobre a Mãe, eu falo não
só sobre a mulher que te gerou no ventre, mas falo também da figura feminina que
desempenhou esse papel para você, caso não tenha sido a mãe biológica.
Pode ser uma avó, tia, madrinha, madrasta, mãe de coração. Falo aqui da figura feminina que
te cuidou. Não quero aqui esgotar todas as possibilidades do materno. Quero falar da mãe que
você ama e pela qual se enlutou.
Precisamos nos lembrar que nem sempre o relacionamento com a mãe é o melhor, ou o mais
fácil. Existem situações e situações, vivências e vivências, histórias de vida muito diferentes
entre si. E pode ser que a forma de você se relacionar com ela, ressoe na forma como vive seu
luto.
E independente de como era esse relacionamento com sua mãe, a morte dela pode ter um
impacto muito profundo em sua vida, mesmo na vida adulta.
Pode ser que você sinta falta daquela mãe com quem você teve o melhor relacionamento
possível, e isso não quer dizer que você se desorganizará mais ou menos. Pode ser que se
sinta abandonada ou abandonado. Pode ter sentimento de intenso desamparo.
Pode ser que sinta tudo isso também ao perder sua mãe com quem mantinha um
relacionamento conturbado. Você pode sentir que ficaram contas para acertar, conversas que
você acredita que deveriam ter acontecido, vários “eu te amo” agora perdidos no espaço sem
possibilidade de serem ditos pessoalmente.
Mas sei que quando pensamos na perda da mãe biológica, podemos pensar também no fato de
que você é um pedacinho dela que está sendo levado adiante. Costumo sempre lembrar que o
vínculo que se quebra quando alguém amado morre, é somente o vínculo físico. Essa pessoa
pode continuar viva em sua memória, em sua rotina, em sua família, e isso acontece quando
você se permite falar sobre sua mãe, partilhar histórias, homenageá-la através de ritualizações
memoriais.
Sabemos que as pessoas morrem desde o início dos tempos. E que o luto acontece desde
então. Isso não quer dizer que sabendo desse fato que as coisas fiquem mais fáceis.
O luto é uma vivência individual, muitas vezes percebida como sendo muito solitária e
desorganizadora. E esse luto é individual, justamente porque assim são os vínculos, e assim
também é a forma como você enxerga a morte e seus assuntos interligados, como o morrer, o
luto, a sua crença no pós morte, e isso está muito ligado a sua própria história de vida, suas
experiências, e sabendo disso, entendemos que a forma como cada pessoa lida com seu luto é
a forma correta, é a forma como ela dá conta naquele momento.
Então é importante que não apresse esse processo. É importante olhar para si e reconhecer
seus sentimentos, buscar formas de expressá-los, seja através da fala, com a família, amigos,
rede de apoio, seja na terapia. Pode ser através da escrita, quem sabe até da arte.
É importante permitir-se o enlutamento pela perda de sua mãe. Quando falamos da mãe,
falamos de histórias partilhadas, de alguém que te conhece desde antes de você entender que
era uma pessoa, que sabe de coisas a seu respeito que talvez nem você saiba, como a
possibilidade de que na sua primeira infância tenha havido uma noite em que ela ficou
acordada velando seu sono até amanhecer porque você estava doente e ela aflita.
Quando essa mãe morre, uma parte da sua história morre também. E você sente,
profundamente.
Já falei aqui o quanto essa vivência pode ser desorganizadora e difícil, e o quanto é importante
se permitir viver mesmo o luto. Também disse sobre cada um viver o luto da forma como dá
conta, que não existe certo e errado, MAS, quero fazer uma ressalva aqui para o seguinte
ponto: a necessidade de viver o luto de forma que ele consiga ser elaborado de forma
saudável.
Então se você percebe que tem vivido muito isolada ou isolado, sem se alimentar ou dormir por
dias seguidos, sem conseguir desenvolver uma rotina minimamente funcional, se tem tido pensamentos que demonstrem vontade de morrer e/ou ideias sobre suicídio, ou está sentindo
que não está dando conta sozinho, que precisa de um espaço para viver o luto, busque o
acompanhamento de um profissional. Você não precisa passar por isso sozinha ou sozinho.
No Memorial Vale da Saudade temos o projeto Vale Lutar, que é composto por esse podcast e
também pelo grupo online de apoio ao enlutado. Nosso grupo está de portas abertas para te
acolher.
Como ter ajuda?
Sabemos que passar pelo luto é muito desafiador, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.
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Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará nas plataformas Spotfy, Google Podcasts, Deezer e Amazon Music
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