Memorial Vale da Saudade

Perdas e Luto no dia de finados

Neste episódio, exploramos a história e o significado do Dia de Finados, uma data de grande importância no Brasil e em outras culturas ao redor do mundo. Refletimos sobre como o luto pode se manifestar de forma única dentro de uma mesma família e sugerimos maneiras de honrar nossos entes queridos de forma significativa. Acompanhe essa conversa sobre memórias, despedidas e amor eterno.

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Priscila Gauna

Texto do episódio

Hoje vamos falar sobre uma data carregada de significados: o Dia de Finados. Uma data em que, tradicionalmente, celebramos a memória daqueles que já partiram. Mas, além disso, vamos explorar a história desse dia, seu contexto cultural no Brasil e como ele é celebrado em outras partes do mundo. Também vamos discutir como o luto se manifesta em momentos como esse, quando famílias se reúnem para lembrar dos seus entes queridos, e como cada pessoa pode vivenciar essa experiência de maneira única. No final, vou compartilhar algumas sugestões de atividades que podem ser feitas nesse dia como uma forma de homenagem.

Quero começar esse episódio com um texto sobre o dia de Finados que escrevi há um tempo, e trago para compartilhar com vocês:

“Hoje pode ser um dia difícil para você.
Talvez a percepção da ausência fique mais forte. Talvez hoje se lamente mais.
Ou não.
Talvez você consiga celebrar por perceber o quanto você teve sorte ou benção de ter aquela
pessoa fazendo parte de sua jornada.
Talvez você ore. Talvez chore. Talvez o riso seja amargo, ou talvez te liberte.
Talvez tenha visitado um túmulo no cemitério. Dois. Vários.
Talvez, como forma de homenagem, hoje se arrisque a comer aquele que era o prato predileto
da pessoa que você ama e que não está mais aqui.
Talvez hoje você tenha relembrado histórias com sua família ou amigos.
Talvez tenha preferido o silêncio.
Talvez hoje seu coração esteja em pedaços. Talvez, apesar da saudade, esteja em paz.
O luto é uma vivência única, individual, subjetiva.
Meu desejo é que você viva esse dia com toda verdade possível.
E com amor, com muito amor.”

Priscila Gauna

Fiz uma pesquisa sobre a origem do Dia de Finados e encontrei que ele remonta ao século XI, quando a Igreja Católica instituiu a data oficial de 2 de novembro como um dia dedicado à memória dos falecidos. A escolha desse dia logo após o Dia de Todos os Santos não foi por acaso. Ele se tornou um momento para que as pessoas pudessem rezar pelas almas daqueles que já não estão entre nós.

No Brasil, essa tradição se consolidou ao longo dos séculos e, hoje, é uma das datas mais marcantes do nosso calendário. Milhares de pessoas visitam cemitérios, levam flores e acendem velas em memória de seus entes queridos. Mas o que torna o Dia de Finados no Brasil especial não é só a sua religiosidade, mas também a forma como ele reflete nossa cultura. Por aqui, este costuma ser um dia de mais reflexão, podendo ser um dia mais emotivo para algumas pessoas e com ritualizações como visita ao cemitério, orações e preces e celebrações religiosas.

E enquanto o Dia de Finados tem suas raízes no cristianismo, em outras partes do mundo também encontramos celebrações semelhantes, mas com características únicas. No México, por exemplo, temos o famoso Dia de los Muertos, que acontece nos dias 1 e 2 de novembro. Diferente da atmosfera mais sombria de Finados, o Dia de los Muertos é colorido e festivo. As famílias montam altares com fotos, comidas, bebidas e objetos que eram queridos pelos falecidos, acreditando que, nesse dia, as almas retornam para visitar os vivos. É uma celebração da vida e da morte como parte do ciclo natural. Acredito que essa é uma boa lição que podemos aprender com nossos amigos mexicanos.

Na Ásia, há celebrações como o Festival de Obon, no Japão, onde as pessoas homenageiam os ancestrais, acendendo lanternas, visitando cemitérios, ofertando comida e bebida a seus mortos, dançando em festividades comunitárias. Essa variedade de celebrações ao redor do mundo nos mostra como a relação com a morte é culturalmente moldada, e cada sociedade encontra formas próprias de lidar com a perda.

Agora, vamos falar sobre o luto, especialmente em datas como o Dia de Finados. Sempre falamos aqui que o luto é uma vivência altamente individual. Mesmo dentro de uma mesma família, a forma como cada membro lida com a perda pode variar bastante. E é importante entender que isso é normal. Também precisamos nos atentar para o fato de que, de forma geral, na vivência do luto, alternamos entre momentos em que você olha mais para a perda, que é quando aqueles sentimentos que relacionamos ao luto, como a tristeza, a dor, a saudade, podem ficar mais intensos e momentos onde você foca mais na vida, que é quando você, por exemplo, se dedica às tarefas diárias, como o trabalho ou estudos. Esse movimento oscilatório, onde em um momento olhamos para a perda e em outro olhamos para a vida nos
ajuda a encontrar equilíbrio em meio à dor. E o dia de Finados pode fazer com que você tenha momentos intensos com esse olhar voltado para a perda, cheio de saudade, tristeza, angústia e tantos outros sentimentos.

Sabemos que o luto é profundo. E quando perdemos alguém, estamos rompendo um vínculo que foi construído ao longo da vida. É natural que isso gere uma dor intensa, e cada pessoa sente essa ruptura de maneira única, dependendo da profundidade e da qualidade do vínculo que tinha com quem partiu. Quando uma pessoa morre dentro de uma família, todo o sistema familiar é impactado, e as dinâmicas podem mudar. Às vezes, o luto de um familiar pode ser reprimido ou ampliado pelo luto de outro, o que pode gerar conflitos ou, por outro lado, fortalecer laços de solidariedade e apoio mútuo. Isso quer dizer que dentro de uma família, o pai pode lidar com a morte de um filho de forma diferente da mãe, ou um irmão pode sofrer de maneira diferente do outro, mesmo que tenham perdido a mesma pessoa. Esses diferentes tipos de vínculo, aliados a diversos outros fatores da história de cada pessoa, resultam em
experiências de luto distintas.

De forma geral, a tendência é que, o passar do tempo somado ao trabalho do luto, faça com que a experiência do luto pareça menos intensa, mas essa vivência não é linear, e datas como Finados podem trazer à tona lembranças intensas, reavivando a dor, mas também oferecem a oportunidade de revisitar essas memórias com carinho.

Sabemos que cada um vive esse dia de forma particular. Algumas pessoas podem preferir não fazer nenhuma atividade relacionada à pessoa que faleceu. Outras, sentem a necessidade de homenageá-las de alguma forma. Outras ainda, talvez não consigam fazer nada neste dia por se sentirem imersas na dor da saudade.

Acredito que o importante é ser muito sincero ou sincera consigo mesmo. Quer exercer alguma atividade para homenegear seus mortos? Faça. Nada disso faz sentido para você? Não tem problema. Você não vai fazer por que não consegue? Busque estar com ao menos uma pessoa com quem você possa conversar e chorar se preciso for caso faça sentido para você.

E se você gostaria de fazer algo, mas não tem ideia do que fazer, trago aqui algumas ideias. Essas atividades podem ser feitas em família ou individualmente, e têm a intenção de trazer uma sensação de conexão, homenagem e de honra àquela pessoa:

Você pode visitar o cemitério. Essa é a forma mais tradicional de homenagem no Brasil. Muitas famílias levam flores e velas aos túmulos dos entes queridos, aproveitando o momento para rezar ou simplesmente refletir sobre as lembranças deixadas por aqueles que partiram. Ou então, pode visitar algum lugar que era importante para vocês ou para aquela pessoa.

Outra ideia, é a de criar um altar em casa. Para aqueles que não podem ou preferem não visitar o cemitério, uma alternativa é montar um pequeno altar em casa. Pode colocar uma foto do ente querido, velas e objetos que tinham significado para ele. Essa prática permite que o luto seja vivenciado em um espaço mais íntimo.

Você pode ainda escrever uma carta ou iniciar um diário. Escrever pode ser uma forma poderosa de expressar o que a fala não consegue. Você pode escrever uma carta para a pessoa que se foi, compartilhando sentimentos, memórias ou até mesmo coisas que gostaria de ter dito. Guardar essas cartas pode ajudar a construir uma ponte emocional com a memória desse ente querido. Ou pode queimá-las – em lugar seguro, como forma simbólica de enviar sua mensagem.

Compartilhar as histórias e memórias pode ser bom. Reunir a família e amigos para contar histórias sobre o ente falecido é uma maneira de mantê-lo vivo na memória coletiva. Essas conversas podem trazer risos, lágrimas e conforto, ao mesmo tempo em que fortalecem os laços familiares.

Outra forma possível de homenagem é realizar uma doação em nome da pessoa falecida. Fazer o bem em nome de quem partiu pode ser uma maneira linda de honrar sua memória. Pode ser uma doação para uma causa que a pessoa apoiava. Se faz sentido para você e para a história de vocês, você pode dedicar um tempo para alguma ação voluntária para a causa que essa pessoa apoiava.

Você pode cozinhar uma refeição especial. Cozinhar o prato favorito da pessoa falecida e compartilhá-lo com a família pode ser uma forma reconfortante e emocionante de lembrar dos momentos felizes vividos juntos.

Essas atividades são apenas sugestões, e são só algumas, mas a maneira como você escolhe homenagear seus mortos é única. O importante é que esse momento tenha significado para você e que traga algum conforto ao lembrar daqueles que deixaram suas marcas em nossas vidas.

Se você está vivenciando o luto, saiba que não precisa passar por este momento sozinho ou sozinha. Se sente que precisa de um espaço para compartilhar sua saudade com outras pessoas, nosso grupo de acolhimento ao enlutado acontece de forma virtual, é gratuito, e você pode se inscrever diretamente por nosso site. O link para inscrições é https://memorialvaledasaudade.com.br/vale-lutar .

Espero que nossas reflexões e essas sugestões tenham trazido algum conforto ou inspiração para honrar aqueles que já partiram.

Como ter ajuda?

Se você está percebendo que precisa de ajuda, se está muito difícil, mais uma vez te digo, busque ajuda, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará em diversas plataformas de áudio.

Conheça o Memorial Vale da Saudade e tenha toda a tranquilidade que você precisa!

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Como você costuma honrar seus entes queridos no Dia de Finados?

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