A dor é uma companheira inevitável no processo de luto. Mas o que fazer com ela? Neste episódio, discutimos como a dor do luto, embora intensa, também revela o amor profundo que sentimos por quem partiu. Refletimos sobre como lidar com essa dor e, ao mesmo tempo, abrir espaço para outros sentimentos, como o amor, a alegria e a calma.
Sumário
Texto do episódio
Hoje vamos conversar sobre um tema muito delicado e profundo: a dor no processo do luto. Se eu te perguntar em quais palavras você pensa quando eu digo a palavra luto, a primeira coisa que pode vir à cabeça são palavras como dor, tristeza e sofrimento, certo? Então… o que fazer com essa dor?
Sim, a dor é parte inevitável do luto. Ela chega com uma intensidade avassaladora, física e emocional, e é algo que todos nós, em algum momento, enfrentaremos. Há um trecho de um texto do Caio Fernando Abreu, meu autor favorito, que ilustra bem essa sensação. Ele diz:
“Dói de todos os lados, os de fora, os de dentro, de baixo e de cima, nenhuma saída, e você meio cego, meio tonto, só sabe que tem que continuar, meio sem esperança, as ilusões despedaçadas, o coração taquicardíaco, língua seca, e continuando.”
Caio Fernando Abreu
Aqui ele falava de um outro tipo de luto, que nem tinha esse nome. Mas era. E essa descrição é forte, não é? Quem já passou pelo luto, ou está passando, pode se identificar. A dor parece vir de todos os lados, sem saída, sem trégua. Ela é física, emocional, real e, muitas vezes, assustadora. Mas hoje, quero falar sobre como essa dor também é um reflexo de algo muito profundo: o amor.
A dor do luto é o amor buscando espaço. Vamos pensar nisso por um momento. Se não houvesse amor, não haveria dor. A dor que sentimos pela perda pode parecer diretamente proporcional ao amor que sentimos por quem partiu. Pode parecer que quanto mais amamos, mais dói. E quando nos damos conta disso, mesmo com toda a intensidade da dor, será que escolheríamos não ter amado? Será que, se tivéssemos a escolha, preferiríamos não ter tido aquele vínculo para evitar o sofrimento da perda?
Essa é uma pergunta importante. E, na maioria dos casos, a resposta é “não”. Não preferiríamos ter vivido sem aquele amor, por mais que a perda seja dolorosa.
No processo do luto, muitas vezes lutamos contra essa dor, tentando evitá-la, suprimí-la, afastá-la. Mas a verdade é que a dor está ali para ser sentida. O luto envolve uma oscilação entre enfrentar a perda e dar pequenos passos em direção à retomada da vida. Esse movimento entre olhar para a dor e olhar para a vida é essencial para que o luto siga seu curso de forma saudável.
A aceitação da perda é uma parte fundamental desse processo e essa pode não ser uma jornada fácil. Aceitar a perda não quer dizer que você vai acabar com a dor. Aceitá-la inclui reconhecer a dor como uma companheira inevitável nessa jornada. Isso não significa que você deve se deixar ser dominado por ela, mas sim que você precisa acolhê-la e dar a si mesmo permissão para senti-la, sem negar seus outros sentimentos.
Quando aceitamos a dor como parte da nossa experiência, podemos, paradoxalmente, abrir espaço para outros sentimentos, inclusive os bons. E isso é importante. No meio do luto, também podem surgir momentos de alegria, de calma, de leveza. Você pode se surpreender ao se pegar sorrindo ao lembrar de uma memória querida, ou sentir um breve momento de paz ao contemplar algo bonito. Esses momentos não invalidam sua dor. Eles coexistem.
Recentemente ouvi, na série *This Is Us* uma fala que exemplifica isso de forma muito bonita. Em um dos episódios, a mãe do personagem Toby diz a ele: “A alegria em você é tão parte sua como a tristeza.” E é exatamente isso. A alegria também faz parte de quem somos, mesmo quando estamos atravessando a dor do luto.
Mas muitas vezes, nos focamos tanto na dor que acabamos nos fechando para esses momentos bons. E quando fazemos isso, estamos nos prejudicando. Quando você impede que qualquer outro sentimento entre, além da dor, você impede que o luto seja vivido de forma mais saudável. Como seres humanos, somos uma mistura de emoções, e o luto, assim como a vida, envolve um fluxo constante entre sentimentos bons e ruins.
Então, o que podemos fazer com essa dor? Pode ser que você já tenha entendido. Sim, aceitá-la. Não como algo que precisamos “superar” ou “esquecer”, mas como parte da experiência de amar quem amamos. E da mesma forma que aceitamos a dor, devemos aceitar os outros sentimentos que surgirem, sem culpa. Permita-se sorrir, permita-se sentir alegria quando ela aparecer, porque a vida é feita dessas oscilações.
Não quero dizer aqui que esse movimento de se permitir sentir a alegria, por exemplo, é fácil ou que aconteça de forma rápida. A sua vivência é sua, e o tempo necessário para conseguir se abrir para novos sentimentos é seu. Mas é importante não se apegar à dor como única forma possível de viver após a morte de alguém amado.
Nos momentos de dor, você pode se lembrar que esse sentimento é, na verdade, amor. Amor que busca expressão, que não vai embora porque continua vivo dentro de você, assim como as lembranças da pessoa que partiu. Lidar com a dor significa aprender a conviver com ela, permitindo que ela tenha seu espaço, mas sem impedir que a vida siga em frente.
Por fim, vale lembrar que o luto é uma jornada pessoal. Cada pessoa o vive de forma diferente, e não existe um caminho certo ou errado. O importante é se permitir sentir, se permitir viver essa experiência em toda a sua complexidade. Afinal, o luto, como o amor, é uma das nossas formas mais intensas de conexão humana.
Então, que todos nós possamos aceitar nossa dor, assim como nossa alegria. E que, no meio da escuridão, possamos encontrar pequenos raios de luz para nos guiar.
E se você, que está vivendo o luto, sente que precisa de um espaço para compartilhar sua saudade, nós contamos com o grupo online de acolhimento ao enlutado, que é gratuito e um espaço seguro para falar sobre quem você ama e sobre seu luto. O link para incrições é https://memorialvaledasaudade.com.br/vale-lutar .
Como ter ajuda?
Se você está percebendo que precisa de ajuda, se está muito difícil, mais uma vez te digo, busque ajuda, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.
—
Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará em diversas plataformas de áudio.
Conheça o Memorial Vale da Saudade e tenha toda a tranquilidade que você precisa!
Siga nossas redes sociais.