Memorial Vale da Saudade

Como vou sobreviver a partida de meu filho?

Relatada por muitos pais como sendo a maior dor do mundo, essa é uma vivência difícil e é necessário que cada um desenvolva suas próprias ferramentas para lidar com o luto da melhor forma possível. Então trouxemos algumas dicas que podem te ajudar nesse momento. Vem ouvir!

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Priscila Gauna

Texto do episódio

Hoje quero trazer algumas dicas de formas de sobreviver a esse turbilhão de coisas que você vem vivendo. Sei que nem todas podem se aplicar a você, que talvez você não concorde com tudo, e tudo certo. O importante é você pegar aquilo que fizer sentido, combinado?

Você vai ouvir coisas bonitas. Mas também ouvirá algumas coisas que poderão te fazer mais mal do que bem. É o caso de frases como:
-“Foi melhor assim”;
-“Ela está num lugar melhor”;
-“Você precisa parar de chorar e ser forte”.

Sabemos que, na maioria das vezes, essas frases são ditas nas melhores das intenções. Mas elas não ajudam. Então quando alguém te disser algo neste sentido, busque absorver a intenção, deixe a frase de lado.

Em algumas situações – é você quem decide quais, e se você se sentir confortável, também pode dizer, de forma amorosa, como gostaria de ser tratada ou tratado. Pode ser que seja necessário educar as pessoas a sua volta em relação ao seu luto.

Muitas vezes as pessoas dizem coisas como as que citei antes pelo simples fato de não saberem o que dizer, mas sentirem necessidade de tentar te confortar. Pode ser também que você não tenha forças para explicar ou educar. E tudo bem. Neste caso, busque absorver somente a intenção com que a pessoa veio falar com você.

Algumas pessoas relatam a experiência de sentir a presença ou conversar com o filho acreditando que ele consiga ouvir o que é dito. Se você quer conversar com seu filho, com sua filha, converse. Dentro da sua cabeça ou em voz alta. Quer contar como foi o dia? Conte. Quer falar sobre a saudade, sobre a dor no dente, sobre a vizinha que casou? Conte também. Não há contraindicação.

Não compare sua dor com a dor das outras pessoas. Não aceite que outras pessoas façam isso com você. Cada um é dono de sua própria dor e vive seu luto da melhor forma que consegue. Viva o seu, sem se comparar com o de ninguém mais.

Reorganize uma rotina. Pode ser que no início a única rotina que você conseguirá ter é em relação aos horários de acordar, dormir e se alimentar. Tudo bem. Não somos, nem precisamos ser super heróis e super heroínas. Mas uma rotina mínima pode ser importante no trabalho do luto.

Não se apresse na organização de itens pessoais. Decida o que fazer com calma, no seu tempo. Você pode optar por fazer desse momento uma forma de homenagear seu filho ou filha através de doações ou presenteando amigos com alguns desses pertences, escolhendo os que você quer, ou simplesmente, deixando tudo no lugar por um tempo.

Li em um artigo outro dia a respeito de uma jovem que morreu e ainda estava na faculdade, morava em uma república, e a família organizou uma celebração para receber os amigos onde fizeram a doação de pertences da filha. Então cada um que passava por lá, podia escolher um item e levar. Essa foi a forma de aquela família homenagear a filha, e também uma das ritualizações de despedida. Acredito que tenha sido importante para os amigos da menina também, possibilitando que também se despedissem mais uma vez e ficassem com algum item memorial, que os fariam se lembrar e manter o vínculo com essa moça.

A espiritualidade pode ser uma fonte de amparo neste momento. Ela pode oferecer algum sentido para a finitude humana, pode oferecer conforto ao apresentar as formas de enxergar a vida e a morte.

Cuide de sua saúde física. Vá ao médico, faça exames que precisam ser feitos. Se puder, pratique exercícios físicos. Não precisa ser em uma academia super equipada. Uma simples caminhada é melhor que nada. A não ser que você queira ir para a academia super equipada, neste caso, tudo certo!

Não se isole. O isolamento pode ser prejudicial para a vivência do luto. Tudo bem ficar só um dia ou outro, mas não deixe isso se tornar rotina.

Cuide de sua saúde mental. Se perceber que está muito difícil lidar com seu luto sozinha ou sozinho, busque acompanhamento profissional de um psicólogo especializado.

Busque as pessoas que podem estar ao seu lado verdadeiramente, com quem você sinta que tem abertura para falar. Essas pessoas podem estar em seu círculo próximo, como família e amigos, mas também pode ser um grupo de apoio. Partilhar ajuda a dar novos significados para essa vivência e a perpetuar a memória do filho.

Tenha suas formas de ritualização e “memorialização”. Busque coisas que façam sentido para você.

As redes sociais, por exemplo, tem sido muito usadas para expressar o luto. Seja no Facebook, Instagram, escrevendo um blog, o fato é que muitas pessoas encontraram essa forma para se expressarem e homenagearem seus filhos amados.

Algumas pessoas se expressam a partir de tatuagens. Alguns pais cujos filhos falecem por conta de algum acidente automobilístico fazem homenagens, geralmente no local onde o acidente aconteceu. Você já deve ter visto, ou até, infelizmente, criado um. Em alguns lugares vemos cruzes nas estradas, pequenos espaços como canteiros, cuidados com esmero, enfim… cada família vai encontrando aquela forma que faz sentido.

Crie algo como forma de “memorialização”. Pode ser uma caixinha de memórias, com fotos, cartas, pequenos itens pessoais com significado para você. Pode ser um álbum de fotos. Pode ser um cantinho da sua casa com fotos. Faça da forma como você se sentir mais confortável.

Ritualize. Ritos podem ser formas importantes de expressão do luto. Pode ser visitas ao cemitério em datas específicas, pode ser cozinhar aquele prato predileto no Natal ou fazer o bolo que sua filha ou seu filho mais gostava em seu aniversário e compartilhar com pessoas amadas.

Essas homenagens, “memorializações” e ritualizações que citei, feitas de forma pública ou privada podem ser auxiliares para manter viva a memória do filho, proporcionando a possibilidade de ressignificação, mantendo vínculos e trabalhando de forma a facilitar a elaboração do luto.

Viva a sua dor. Não precisa fingir que não dói. Faça as pazes com ela. Aceite. Possivelmente ela será sua companheira por uma longa parte do seu caminho a partir de agora. Aprenda a conviver com ela.

Da mesma forma, viva a alegria. Em algum momento, você irá sorrir. E não tem nada errado com isso. Abrace a alegria assim como abraça a tristeza. Deixe que esses sentimentos coexistam dentro de você. Faz parte da experiência humana.

Se permita ter seu tempo. Apareceu um evento, ou está chegando uma data comemorativa e você não quer participar? Não se sinta culpada ou culpado. Agradeça ao convite mas diga que não se sente preparado para participar. Se estiver em dúvida, cheque com a pessoa que te convidou se tudo bem se você resolver ir de última hora. Foi e não se sente bem? Volte para casa. Não tem nada errado nisso.

Algumas famílias encontram conforto ao levarem adiante projetos dos filho. Por exemplo, cuidar de crianças em situação de vulnerabilidade, de animais abandonados, criando projetos educativos, ou ainda, se engajando ao criar ou participar de grupos, organizações que visem educar ou auxiliar pessoas que convivem com alguma doença semelhante, ou que buscam evitar situações semelhantes às que levaram a morte de seus filhos, como violência ou acidentes. Essa pode ser uma ferramenta poderosa na construção de significados para o luto e para o lugar daquele filho que morreu.

Nenhuma das dicas que trouxe aqui vão tirar a sua dor. A intenção é te ajudar a desenvolver ferramentas que te possibilitem um luto saudável.

Como ter ajuda?

Se você está percebendo que precisa de ajuda, se está muito difícil, mais uma vez te digo, busque ajuda, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará nas plataformas Spotfy, YouTube Music, Deezer e Amazon Music

Conheça o Memorial Vale da Saudade e tenha toda a tranquilidade que você precisa!

Siga nossas redes sociais.

Tem alguma outra dica que você acredita ser útil e não foi dita aqui? Compartilhe com a gente.

0 0 votos
Article Rating
Inscrever-se
Notificar de
guest
0 Comentários
mais antigos
mais recentes Mais votado
Feedbacks embutidos
Ver todos os comentários