Quantas despedidas cabem numa perda? O luto nos desafia a nos despedirmos de inúmeras formas, desde as questões burocráticas até as lembranças do dia a dia. Neste episódio, refletimos sobre como essas despedidas, apesar da dor, também podem ser homenagens cheias de amor e significado. Com base em reflexões e na sabedoria de Viktor Frankl, falamos sobre recomeços e como encontrar novos sentidos mesmo diante da ausência.
Sumário
Texto do episódio
Hoje, quero falar com você sobre algo que, quando vivemos o luto, está presente em cada pequeno momento do nosso dia a dia: as despedidas. Mas não aquelas grandes, que todos reconhecem, como a do velório ou do enterro. Quero falar sobre as inúmeras despedidas que acontecem depois, muitas vezes silenciosas, mas sempre dolorosas e, ao mesmo tempo, cheias de significado.
Quantas despedidas cabem numa perda? Quando alguém que você ama morre, você se despede muito mais vezes do que imagina. E cada uma dessas despedidas é uma forma de lidar com a ausência, de processar essa nova realidade sem a pessoa que se foi.
Às vezes, a despedida começa antes mesmo da morte, quando vemos uma pessoa que amamos em processo de morte, seja por uma doença longa ou por uma situação que nos prepara para o fim. Nesses casos, a despedida vai acontecendo aos poucos, enquanto o corpo ainda está ali, mas já sabemos que o adeus é inevitável.
Mas, para outras pessoas, a despedida vem de repente, sem aviso. Independente de como acontece, o adeus não é um único momento. Não se encerra no velório ou no enterro. A cada nova situação, a cada novo detalhe, você se vê despedindo novamente. E pode ser muito doloroso perceber o quanto o luto se espalha pela vida cotidiana.
Você se despede ao lidar com as questões práticas e burocráticas. Documentos, certidão de óbito, papéis que precisam ser assinados. Tudo isso carrega um peso, pois não são só tarefas administrativas; são lembretes da ausência, da perda irreversível.
E depois, vem a despedida emocional e física dos espaços que aquela pessoa ocupava. A primeira vez que você entra na casa onde ela não estará mais, ou quando organiza seus pertences – uma roupa, uma foto, algo tão íntimo que se torna quase um símbolo da pessoa.
E essas despedidas continuam. Talvez você se pegue dizendo adeus em um pôr do sol que está com as cores que aquela pessoa gostava, ou ao ouvir aquela música que sempre tocava. Ou ainda, em um jantar em que o prato preferido daquela pessoa é servido, mas o lugar à mesa está vazio.
Cada uma dessas pequenas despedidas, mesmo carregadas de dor, também podem ser homenagens. Repletas de amor e de memórias. A dor, sim, ela estará presente, mas assim como a dor, estará também a história. Estará o amor que foi construído, os momentos compartilhados, as risadas, as conversas e até mesmo as lições que ficaram.
Quando pensamos em despedidas, muitas vezes focamos apenas na perda, na ausência. Mas quero trazer uma nova perspectiva para essas despedidas: elas podem ser vistas como parte de um recomeço. Viktor Frankl, um dos grandes nomes da psicologia, disse: “Quando não podemos mais mudar uma situação, somos desafiados a mudar a nós mesmos.” E isso é o que o luto nos pede, de certa forma. Não podemos mudar o fato de que aquela pessoa não está mais aqui, mas podemos mudar a maneira como seguimos adiante.
Cada despedida pode ser um ato de amor, um pequeno passo em direção à reconstrução. Não se trata de “superar” o luto, mas de aprender a viver com ele. Aceitar que a ausência daquela pessoa faz parte de quem você é agora, mas que isso não te impede de continuar vivendo, sentindo alegria, esperança, e de encontrar novos significados para a vida.
Se permitir recomeçar apesar da ausência é um desafio enorme, eu sei. A dor pode parecer insuportável às vezes, e tudo o que você quer é voltar no tempo e ter aquela pessoa ao seu lado mais uma vez. Mas esse é um processo que pode ser feito com muito cuidado e carinho, respeitando o seu ritmo. Se em algum momento você sentir que a dor está pesada demais, lembre-se: você não precisa passar por tudo isso sozinho. Buscar ajuda profissional pode ser um ato de autocuidado e compaixão consigo mesmo.
E, aos poucos, você vai perceber que, junto das despedidas, surgem novas formas de homenagear, de lembrar e de sentir. O luto vai continuar sendo parte de você, mas também a pessoa amada continuará viva nas suas lembranças, nas suas histórias, no amor que permanece.
Então, enquanto você vive essas despedidas, lembre-se de que cada uma delas também é um convite para recomeçar. Para encontrar novas formas de se conectar com o que aquela pessoa significou para você, sem deixar que a dor seja a única voz presente.
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