Memorial Vale da Saudade

Repensando além das 5 fases do luto

Elizabeth Kübler-Ross foi pioneira ao falar sobre o luto com suas famosas 5 fases, mas a compreensão sobre o luto evoluiu. Neste episódio, refletimos sobre as contribuições fundamentais da teoria de Kübler-Ross e explicamos por que hoje utilizamos abordagens mais amplas para entender o processo de luto. Acompanhe essa reflexão sobre os novos olhares sobre o luto e como podemos viver de forma saudável nossas despedidas.

Um projeto do Memorial Vale da Saudade, apresentado por Priscila Gauna

Texto do episódio

Hoje vamos falar sobre um tema que já foi muito central nos estudos sobre o luto: as 5 fases do luto de Elizabeth Kübler-Ross. Essa teoria foi um marco em sua época e ajudou a moldar o entendimento do luto por muitos anos. Mas, como vamos ver hoje, a compreensão sobre o luto evoluiu, e novas teorias surgiram para refletir as complexidades dessa experiência. Vamos falar sobre por que, atualmente, as 5 fases do luto já não são mais amplamente utilizadas, mas também sobre o importante legado que essa teoria deixou.

Para começarmos, vale relembrar as cinco fases propostas por Elizabeth Kübler-Ross em seu livro “Sobre a Morte e o Morrer”, publicado em 1969. Essas fases – negação, raiva, barganha, depressão e aceitação – descreviam o que, segundo ela, seria o processo emocional que uma pessoa passa ao enfrentar a morte. É importante notar que Kübler-Ross desenvolveu essa teoria a partir de seu trabalho com pessoas que estavam adoecidas, sem possibilidade de cura, ou seja, ela estava se concentrando no luto antecipatório, aquele vivido por quem está enfrentando a própria morte.

Seu trabalho foi revolucionário, trazendo à luz um tema que, até então, era tratado com muito silêncio e até tabu: a morte. Ao propor essas fases, Kübler-Ross ajudou a dar voz aos sentimentos das pessoas em processo de morrer, permitindo que essas emoções fossem mais compreendidas e respeitadas. Por isso, é fundamental reconhecer o quanto sua teoria foi crucial para humanizar o atendimento médico e psicológico a pacientes terminais.

No entanto, com o passar dos anos, a teoria das 5 fases do luto passou a ser aplicada a outros tipos de perda, como a morte de um ente querido ou até mesmo separações e grandes mudanças de vida. E foi aí que surgiram algumas limitações.

Estudos e observações mais recentes sobre o luto apontaram que nem todas as pessoas passam por essas fases de maneira linear ou mesmo na mesma ordem. Algumas podem, por exemplo, não sentir raiva ou barganhar com a realidade da perda. Outras podem alternar entre emoções de aceitação e tristeza, em um movimento que não segue uma sequência rígida.

O luto é um processo muito mais complexo e fluido do que uma sequência de etapas. Cada pessoa vivencia o luto de maneira única, dependendo de fatores como a relação que tinha com a pessoa falecida, suas crenças, o apoio que recebe e até mesmo experiências anteriores de luto. É justamente essa individualidade que teorias mais atuais procuram reconhecer.

Para falar com vocês hoje sobre isso, vou trazer alguns nomes de teorias e seus autores, mas de uma forma mais simples. Então não se preocupe, não será uma aula, combinado?

Uma das teorias que trouxe essa visão mais flexível sobre o luto é o Modelo Dual do Luto, de Margaret Stroebe e Henk Schut. Eles falam basicamente aquilo que sempre trago para vocês, que o luto envolve oscilações entre dois tipos de enfrentamento: o de focar na perda e o de focar na restauração. Em vez de fases rígidas, o luto é visto como um movimento contínuo entre a dor e os esforços para seguir em frente com a vida. Essa ideia nos lembra que o luto não é um processo linear, mas algo dinâmico.

Além disso, o psicólogo William Worden, traz as Tarefas do Luto, sugerindo que o luto envolve algumas tarefas, como aceitar a realidade da perda e ajustar-se a um ambiente sem a pessoa amada. Essas tarefas também podem ser vividas de formas diferentes e em diferentes tempos por cada indivíduo. O foco aqui está na capacidade ativa do enlutado de trabalhar essas tarefas, ao invés de “passar” por estágios passivamente. Lembra que sempre falamos aqui sobre o trabalho do luto? Justamente por isso. Não é o tempo que resolve tudo. É o trabalho diário desse luto que vai te possibilitar elaborá-lo de forma saudável.

A Teoria do Apego de John Bowlby, que também influenciou profundamente os estudos sobre o luto, nos lembra que o vínculo emocional que temos com as pessoas que amamos continua a influenciar nossa vida, mesmo após a morte delas. Quando perdemos alguém, o luto é a forma de processarmos a dor da ruptura desse apego.

Essas teorias mais recentes reconhecem que o luto é muito mais uma experiência de trabalho e adaptação do que de seguir fases fixas. A dor da perda, a reconstrução da vida sem a pessoa e a busca por significado são elementos que coexistem e se alternam ao longo do tempo, em ritmos e intensidades diferentes para cada um.

Ainda assim, a importância do trabalho de Elizabeth Kübler-Ross não pode ser ignorada. Sua teoria abriu portas fundamentais para que o luto fosse tratado de forma mais aberta, empática e respeitosa, especialmente no contexto do luto antecipatório do paciente, ou seja, quando a pessoa está enfrentando a própria morte. Antes dela, essas emoções muitas vezes eram relegadas ao silêncio ou minimizadas. Ela nos ajudou a reconhecer que as pessoas que estão morrendo têm direito a expressar suas emoções e a serem compreendidas em seu sofrimento.

Seu trabalho foi um ponto de partida essencial para tudo o que sabemos hoje sobre o luto. E é justamente por isso que, ao olharmos para as teorias mais atuais, vemos um aprofundamento desse legado. O luto não é algo que se resolve em etapas, mas sim um processo profundamente pessoal e, muitas vezes, sem uma linha clara de chegada.

Então, por que a teoria das 5 fases já não é mais amplamente utilizada? Porque, com o tempo e com mais estudos, pudemos compreender que o luto não segue uma trajetória única ou pré-determinada. Cada pessoa vive o luto à sua maneira, no seu tempo. Isso não significa que as fases de Kübler-Ross estejam “erradas”, mas sim que o luto é uma experiência muito mais complexa e individual do que se imaginava originalmente.

E essa evolução é um reflexo da própria natureza do luto. Ele muda, se adapta, se transforma, assim como nós. E nosso entendimento sobre ele continua a crescer. 

Como ter ajuda?

Se você está percebendo que precisa de ajuda, se está muito difícil, mais uma vez te digo, busque ajuda, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.

Objetivando o acesso a todos que não podem escutar nosso podcast, extraímos o texto para melhor aproveitamento daqueles que preferem a leitura. Caso se interesse por escutar o podcast Vale Lutar, você encontrará em diversas plataformas de áudio.

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