O luto é uma vivência individual, única. E como essa singularidade pode acontecer dentro da família? Vem pensar com a gente sobre essa questão no episódio de hoje.
Sumário
Texto do episódio
A mãe costuma ser um dos pilares da família. E quando essa mãe morre, essa família pode se
desorganizar de forma muito profunda. Pode ser que a mãe funcionasse como “a cola” que
mantinha a família unida. E sem ela, a família pode se sentir então, perdida.
Isso é natural e esperado que aconteça, principalmente no início. Fico pensando no quanto
uma morte deixa várias pessoas enlutadas. Essa mãe que morreu, poderia também ser
esposa, avó, filha, irmã, amiga, colega de trabalho. As pessoas que ficaram nessas relações,
se enlutam.
É importante observar que os papéis dentro da família precisarão ser ajustados. E isso não é
fácil de fazer. Agora existe um buraco gigante no seio familiar que ninguém vai preencher e ao
mesmo tempo, algumas funções precisarão ser reajustadas.
Se essa mãe estava sendo cuidada pela família, vindo de uma doença prolongada, as pessoas
que eram encarregadas pelos cuidados, precisarão encontrar seu novo lugar. Se por exemplo,
foi uma morte repentina, algumas funções precisarão ser delegadas. Quem é a pessoa que vai
cozinhar, por exemplo? O filho, que sempre será filho, e passava os domingos com ela, talvez
precise readequar as visitas, porque, por exemplo, pode ser que agora só tenha ficado o pai,
que vai precisar agora, também de um pouco mais de cuidado.
Algumas famílias conseguem ter uma vivência funcional desse luto, servindo de rede de apoio
entre si, enquanto em algumas famílias isso não acontece. E é aqui que precisamos pensar em
relação às singularidades do luto.
Cada um vive o luto à sua maneira. Como já trouxe aqui outras vezes – e sempre vou trazer,
não existe certo e errado para viver esse processo. O jeito certo, é o jeito que o enlutado
consegue viver.
Então vamos pensar aqui, como um exemplo, em uma família cuja mãe teve 4 filhos. Pensando
então somente nos filhos, além das outras pessoas no contexto dessa perda, são quatro
indivíduos, que vão viver seus lutos de formas muito diferentes.
Mas como pode, se todos são filhos dessa mesma mãe?
O primeiro filho, foi o primeiro. É óbvio, eu sei. Mas quero dizer que, possivelmente, essa mãe
aprendeu a ser mãe com ele. Ela viveu nessa relação o primeiro choro sem saber porque o
filho chorava, possivelmente, cuidou dele com muito mais medo. Medo de que se machucasse
com os brinquedos, que caísse da bicicleta, que se sujasse demais.
Quando nasce o segundo filho, essa mesma mulher, já tem uma experiência diferente do
maternar. Embora cada criança seja única, de repente, ela já entende que aquele choro é
cólica. E que os tombos de bicicleta, vão acontecer, e que a sujeira na roupa, sai com a
lavagem.
E assim, tempos depois, nascem outras duas crianças com diferença de alguns poucos anos.
Desde o primeiro filho até o último, essa mulher pode ter se transformado profundamente. Ela
aprendeu, amou, teve medo, se libertou de alguns deles. O contexto familiar também pode ter
mudado. Pode ser que tenha se enviuvado entre o segundo e o terceiro filho, que é então, fruto
do segundo casamento. Tantas outras coisas podem ter acontecido.
As questões sociais, históricas e econômicas também influenciam nessa conta. Questões
relacionadas à forma como ela vivia a espiritualidade e inclusive a forma com que ela
enxergava as questões sobre vida e morte, também influenciam em como ela era para cada
uma dessas crianças.
A mãe do quarto filho é muito diferente daquela que foi mãe do primeiro há alguns anos. Sendo
assim, as relações também acontecem de formas muito diferentes. Outro fator, é que cada filho
é único, então cada um trouxe para ela uma demanda diferente. Um talvez fosse mais
bagunceiro, a outra mais namoradeira, enquanto um fosse super estudioso e a outra muito
prática em tudo. Então cada um exigiu cuidados diferentes em momentos diferentes dessa
mãe. Você não cuida do coração partido de um filho, da mesma forma que cuida de uma nota 0
no boletim escolar.
Então nessa nossa família hipotética, temos uma mãe que se relacionava de forma diferente
com cada filho (veja bem, aqui não falo de amar mais ou menos, somente de formas de se
relacionar) e cada filho se relacionava de forma diferente com essa mãe.
Dei toda essa volta para trazer então o seguinte questionamento: você acredita que esses
filhos vão viver da mesma forma a perda da mãe?
Te adianto que não. Pode ser que um chore demais e se incomode ao perceber que um dos
irmãos não chora e encara isso até como um desrespeito com a mãe.
Pode ser que uma filha não goste de ver fotos, mas gosta de relembrar histórias da mãe,
enquanto a irmã gosta de vestir alguma peça de roupa, jóia ou bijouteria que era da mãe e faz
com que ela se sinta mais próxima da mãe de alguma forma, e o filho não goste de conversar
sobre ela mas mantém um pequeno altar em casa com uma foto e uma decoração.
Precisamos pensar que, se o seu luto é individual, o luto do seu irmão ou da sua irmã também
é. Cada um dos filhos tem sua própria forma de encarar a morte. Cada um tem suas bagagens,
adquiridas a partir da vivência de suas vidas.
Não cobre demais de si. Nem deles.
Como ter ajuda?
Sabemos que passar pelo luto é muito desafiador, O Memorial Vale da Saudade pensando em como ajudar na coletividade conta com programas de apoio ao enlutado mensalmente, portanto, se você ou um ente querido está vivenciando essa dor pela perda de alguém que você muito ama saiba mais sobre nossos programas clicando aqui.
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